quarta-feira, 1 de agosto de 2012

A ÍNDIA NOSSÉCULOSXVI-XVII: INVASÃO PORTUGUESA, IMPÉRIO GRÃO-MONGOL


A Índia nos séculos XVI-XVII: invasão portuguesa, Império Grão-Mongol


Introdução

Em plena Idade Moderna em imprescindível saber da história da mesma pondo de parte a europeização do mundo, isto é, os contactos dos europeus com o resto do mundo. Este contacto que desenrolou-se através da expansão que no seu aspecto geral foi um movimento geográfico embora alguns historiadores dizem que essas não são as causas gerais.

Quais eram então os motivos que levaram os portuguesas até a Índia?

Estando na Índia o que fizeram com os habitantes da mesma?

Segundo Jacques Pirenne (1952), Pinheiro Chagas (1890), Boxer (1969) e Roberts (1996) afirmam que as causas não eram sede cientificas mas sim causas económicas como a procura de metais preciosos e especiarias.
É que a Europa no século XIV e XV carecia de metais preciosos como o ouro e a prata que eram tão necessários para os estados europeus. Estavam numa economia mercantil e precisavam de numerários para os gastos da monarquia no processo de centralização.
Os estados europeus não tinham ouro e prata suficiente para pagar os mercadores marroquinos que faziam a venda desses produtos com ouro. Sem esquecer as especiarias que acabavam por tornar-se importantíssimas para a Europa pois era muito consumida na medicina ou farmacologia e na culinária tornando-se importante na sociedade europeia.
Estes produtos vinham da Ásia e com a investida dos turcos em 1453 tomando Bizâncio passam a controlar importantes portos como o de Alexandria e de Constantinopla. Assim, os comerciantes genoveses e venezianos passam a pagar aos turcos tarifas elevadas causando assim o aumento do preço das mercadorias.
Nesta senda dar-se-á o agravamento para os estados europeus pois neste comércio os mesmos não tinham receitas financeiras para equilibrar o comércio com os asiáticos. Sem recursos financeiros para os elevados preços destes produtos levará os europeus a criarem uma via para evitarem os turcos e chegarem até a fonte desses minerais e das especiarias.
Foi esta procura incessante que levou os portugueses a Índia pois ela era considerada o centro comercial de especiarias.
Neste contexto, para explicarmos esta invasão portuguesa a Índia decidimos esmiúça-lo em dois capítulos.
No primeiro capítulo destacamos o Império Grão-Mongol desde o seu surgimento na Índia, fazendo uma abordagem abrangente das suas castas, a forma de administração do Império no reinado de Akbar até o seu declínio.
Já no segundo capítulo fizemos abordagem da invasão portuguesa na Índia nos séculos XVI a XVII. Como não podia deixar de ser mencionamos as conquistas portuguesas em Goa e Malaca, falamos da conversão da população autóctone ao cristianismo e, por fim, tocamos no objectivo que levou os portugueses à Índia sendo seguido mais tarde por outros estados europeus.
Este trabalho é de estrema importância pois ajuda-nos a compreender que por trás das causas primárias têm sempre causas secundarias que são normalmente ofuscadas para não despertar a hostilidade da população. Também neste trabalho, antes desconhecido por mim, ajudou-me na procura e compreensão do material.
Para a conclusão do mesmo contei com a pesquisa bibliográfica de autores que estão mencionados na última página, embora houvesse mais conteúdos, mas como o importante não é o volume do material, mais a sistematização lógica apoiamo-nos simplesmente nos autores referidos.
Sem mais delongas apresento-vos este trabalho investigativo.


Capítulo I – O Império Grão-Mongol

A actual Península do Indostão foi quase o todo do Império Grão-Mongol. No tempo em que os portugueses o descobriram estava repartido entre cinco poderosos monarcas, e cada um dos quais tinha muito reis tributários. Eram os reis de Cambaia, de Deli, Decau, Narsinga e Calecut. Este último era conhecido de Çamorim, que corresponde ao título de Imperador. Os seus estados eram os mais banhados pelo mar e se estendiam em toda a península.
Estes príncipes eram na sua maioria muçulmanos de região, embora existissem as antigas idolatrias que eram transmitidas de indivíduo a indivíduo sendo a religião dominante entre a população como o bramanismo e o budismo[1].

1.1 – Surgimento do Império

Não se pode falar deste império na Índia sem antes partir do objecto sine qua non para o surgimento deste grande império que é o domínio muçulmano.
Este domínio durou em algumas regiões até 1857. O Islão chegara a Índia de início através dos comerciantes árabes da costa oriental.
O Islão encontrava-se estabelecido no sub-continente, constituindo o maior desafio jamais feito a capacidade assimiladora da Índia pois os seus estilos baseados na acção, na procissão e na revelação, era totalmente autentico em relação ao hinduísmo ao budismo, embora o Islão fosse também transformada ou alterada por estas religiões[2].
Nesta senda, novos sultões se sucederam em Deli, mais durante muito tempo não demonstraram poder suficiente para restauração do antigo império islâmico.
Este só foi restabelecido no século XVI pelo príncipe Babur de Cabul vindo do exterior. Por parte do pai descendia de Timur e por parte da mãe de Chinghis, referência extraordinária de um jovem moldado na diversidade.
Cedo descobriu a necessidade de lutar pela sua herança e poucos nomarcas terão tido capacidade de conquista demonstrada por Babur, onde aos 14 anos conquistava uma cidade de importância de Samar Canda embora viesse perder quase de imediato.
Mesmo pondo de parte as lendas e as anedotas, Babur permanece apesar da sua crueldade e duplicidade uma das figuras mais atraentes entre os grandes governantes, dadas as suas qualidades de munificiência, destemor, coragem, inteligência e sensibilidade. Deixou-nos uma auto biografia escrita ao longo da sua vida que seria observada pelos descendentes como fonte de orientação e orientação. Esta obra mostra-nos um governante que não se considerava Mongol pela cultura mais turco segundo a tradição dos povos a muito fixadas nas antigas províncias orientais do Califado Abassida[3].
O seu gosto e a sua cultura foram formados pela herança dos príncipes Timurides da Pérsia de onde provinha também o seu amor pela jardinagem e pela poesia enquadrando-se facilmente no ambiente de uma Índia islâmica cuja as culturas cortesãs já se encontravam muito influenciadas por modelos persas. Babur era um bibliófilo, dizendo-se que após conquistar Lahore se dirigiu imediatamente a biblioteca do seu adversário derrotado para escolher obras que enviou como presente aos seus filhos. Ele próprio escreveu um relato de 40 páginas as suas conquistas no Indostão realçando os seus costumes e estruturas de castas, a flora e a fauna.
Este jovem príncipe foi chamado a Índia em auxílio dos chefes afegãos mais tinha as suas próprias reivindicações a apresentar, quanto a herança da linhagem Timurde do Indostão. Este será o início da Índia Mongol sendo este o étimo persa para Mongol, embora Babur não aplicasse a si próprio.
Em 1526 conquista Deli, depois da morte do sultão em combate. Em breve Babur dominaria os que o tinham convidado a dirigir-se a Índia derrotando ao mesmo tempo os príncipes hindus infiéis que tinham aproveitado a oportunidade para restaurar a sua própria independência.
Assim, nasceu um Império que em 1530, ano da sua morte, se estendia desde Cabul até aos limites de Bihar, isto no monte da península do Indostão. Na sua morte foi transportado o seu corpo como ordenara para Cabul tendo sido sepultado em campa Rosa no jardim preferido, no local que sempre considerava como a sua casa.[4]    
Depois da sua morte, é sucedido pelo seu filho. O reinado do filho de Babur foi sempre perturbado pela instabilidade e incapacidade do novo rei sem esquecer a presença de meios irmãos desejosos de explorarem a tradição Timurde que tal como a dos francos que previa a partilha de herança real, mostrou que a segurança e a consolidação do reino de Babur não podia ser considerada garantida. Durante os cinco anos do seu reinado, o filho de Babur, cujo nome é desconhecido, foi expulso de Deli, embora ali regressasse para morrer em 1555.[5]
O seu herdeiro Akbar, nascido durante a deambulação angustiada do seu pai, mas beneficiando de um horóscopo muito auspicioso e de ausência de irmãos rivais, subiu ao trono ainda criança. Herdou inicialmente apenas uma pequena parte dos domínios do avô, mas sobre ela construiria um império que recordava o de Asoka merecendo respeito temeroso dos europeus, principalmente os portugueses que lhe chamavam o “Grão-Mongol”.
Akbar possuía muitas qualidades reais sendo corajoso até a insensatez sendo o maior defeito a teimosia, apreciando em criança montar os seus elefantes de combate e preferindo a caça com falcões ao estudo, e em consequência dessa preferência Akbar era iletrado caso único da linhagem de Babur.
Porém, era também como os seus predecessores um admirador da sabedoria e de tudo o que era belo. Coleccionou livros e no seu reinado a arquitectura e a pintura Mongol atingiram o seu apogeu mantendo a sua custa um grupo de pintores na sua corte.
Acima de tudo, Akbar era um estadista na forma de lidar com os problemas colocados pelas diferentes religiões existentes entre os soldados. Akbar reinou quase meio século (1555 à 1605), ultrapassando assim ligeiramente a duração do reinado da sua contemporânea a rainha Isabel da Inglaterra.

1.2 – Religião e as castas no império

Neste império observa-se uma distinção de castas ou tribos de que conhecemos graças aos antigos geógrafos e escritores que se ocuparam das acções de Alexandre o Grande. Entre estas castas distinguem-se por nascimento e da superioridade que conservavam uma sobre outras e as mais consideradas eram as dos Brâmanes e a dos nobres.
Os Brâmanes nascidos do sangue dos antigos Ginosofistas[6], herdeiros de seus antepassados, os oráculos de seus deuses, os interpretes de suas leis e os únicos que tinham direito ao sacerdócio e ao ministério dos altares. Eles reconheciam um ser supremo chamado Parabrama o qual produziu três deuses superiores a todos os outros, que não formam todos juntos mais do que uma divindade. Entre eles destaca-se Brama, o primeiro dos três que é o Deus criador, dele saíram os deuses inferiores e todos os seres visíveis e invisíveis. Vixenu, o Deus conservador e Rutrem, o Deus destruidor.
Os Brâmanes, em memória destes deuses trazem no pescoço três cordãos unidos e compostos cada um de três fios de diferentes cores, como testemunho de sua procissão de fé, que se presume ser uma ideia corrompida da revelação do ministério da trindade[7].
Além desses deuses há uma infinidade de outros espalhados por diversos chorcasmos ou paraíso. Suas ideias sobre a incarnação de seus deuses têm muita relação com as fábulas da mitologia grega em suas diferentes classes de divindade e a ideia dos antigos egípcios. A sua doutrina sobre a palingenesia ou a reprodução do mundo e a transmigração das almas é inteiramente conforme a de Plantão e a de Pitágoras.
O Veda é dividido em cinco livros e contem toda a sua religião, seus mistérios e preceitos, eles o têm de uma tradição imemorial. O Veda é respeitado entre eles como a santa escritura para os cristãos.
A segunda casta é a dos nobres onde se consideram a alta e a pequena nobreza. Pertencem a alta nobreza os Rajaes e os Caimães que são pequenos soberanos ou outras pessoas qualificadas entre os europeus os duques e os condes. A pequena nobreza compreende os nobres puros. Estes fazem profissão das armas e são educados desde a idade dos sete anos em academias análogas dos antigos cavaleiros europeus. Não podem servir no exército nem pegar em armas enquanto o curso não terminar.
Aqueles chamados afeiçoados entre os nobres e que ligavam a sua vida por juramento a um príncipe são de todos eles os mais temidos e perigosos.
As demais castas são dos povos miúdos que distinguissem segundo o comentário de Heródoto e os primeiros egípcios pelas suas profissões destacando-se os negociantes, lavradores, guardadores de gado e os ladrões. A mais miserável de todas as castas é a dos párias, os quais comem carne dos animais e por este motivo se tornam tão abomináveis que apenas são olhados como homens[8].
Os seus templos eram magníficos, houve alguns autores que afirmavam que só o pórtico de um desses templos onde guardavam as vítimas destinadas ao sacrifício se compunham de 70 colunas que se igualavam a beleza de pantéon de Roma. Seus pagodes são muito ricos, seus mosteiros muito numerosos bem fundamentados, seus ídolos carregados de jóias de valores incalculáveis. E Calecut era então a sede do sacerdócio e do império e ao mesmo tempo a cidade mais oponente a ponto geral de reunir todas riquezas e preciosidade do Oriente.

1.3 – A política e administração do império no reinado de Akbar

Ao atingir a maturidade, um dos seus primeiro acto foi o casamento com a princesa Rajaput, que era obviamente hindu. O casamento desempenhou sempre um importante na diplomacia e nas estratégias de Akbar, pois a referida princesa era filha do importante rei de Rajaput e, portanto, um bom partido. Além do político este casamento teve outros efeitos pois Akbar já permitia as mulheres hindus do seu harim a prática do rito da sua própria religião, acto sem precedente para um governante muçulmano.
Aboliu o imposto individual e, sobre os não muçulmanos, já que viria tornar-se o imperador de todas as religiões e não um muçulmano fanático.
Akbar chegou mesmo a contactar mestres cristãos, convidando os portugueses que tinham surgido na costa ocidental a enviar para a sua corte missionários que fossem bom conhecedores da fé, pelo que três jesuítas ali chegaram em 1520.
Estes dissertaram vigorosamente com teólogos muçulmanos embora ficassem defraudados da sua esperança a muito acalentada pela sua conversão. Akbar parecia ter sido homem de sentimento religioso genuíno e de mente eclética chegando mesmo a tentar estruturar uma nova religião de sua autoria, denominada a Mecla do Zoroastrismo, Islão e Hinduísmo. Essa nova religião teve pouco sucesso excepto entre alguns cortesãos prudentes e ofendendo alguns deles.[9]
Qualquer que seja a interpretação feita, o que se sabe é que o apaziguamento dos não muçulmanos facilitaram os problemas do governo na Índia. Assim, os conselhos de Babur escrito nas suas memórias sobre o apaziguamento dos inimigos derrotados apontavam também nesta direcção pois Akbar lançara-se numa série de conquistas e acrescentara muito novos territórios hindus ao seu império reconhecido assim como a unidade do norte da Índia desde Gujarat a Benguela e iniciando uma conquista do Decan.
Este mesmo império era governado segundo um sistema administrativo grande do qual sobreviveu até a época da soberania britânica, embora Akbar não fosse um inovador no plano governativo mais principalmente o continuador e defensor das instituições que herdara. Os funcionários governavam em nome do imperador e a seu belo prazer, tendo como funções primordiais o recrutamento de soldados sempre que necessário e a cobrança de impostos sobre a terra, este agora formulado num sistema mais flexível a escala imperial organizado por um ministério das Finanças hindu que parece ter tido um sucesso extraordinário pois conduziu ao aumento da produção que elevara o nível de vida do Indostão.[10]
Estas e outras reformas notáveis são resultados encontrados e restringindo numa prática designada por Suttee.
Acima de tudo, Akbar estabilizou o regime. Apesar de se ter desiludido com os seus filhos e de ter lutado contra eles, a dinastia estava fortemente consolidada até a época da sua morte. Apesar disso ocorreu revoltas, algumas das quais fomentadas pela ira dos muçulmanos perante o afastamento da fé por parte de Akbar.
Outra importante evolução verificada no final do reinado de Akbar foi a consolidação da primeira relação directa da Índia com a Europa atlântica.
Viajantes europeus tinham se dirigido ocasionalmente a Índia cujos governantes conseguiram atrair alguns técnicos para os seus serviços, embora em número mais reduzido depois das conquistas otomanas.
Porém, o que estava para acontecer teria maior consequência e mudaria a Índia para sempre. Os europeus que agora chegavam seriam seguidos por outros em número crescente e ali se fixem.

1.4 – A unidade da Índia sobre o domínio dos Grão-Mongois

A Índia na realidade é uma amálgama de raças e de nações seguidas pelas diferenças profundas entre as concepções de muçulmanos monoteístas e dos hindus politeístas. Por tanto, acima das divergências que ela tem, a Índia adquire assim uma espécie de unidade somente de superfície pois mesmo com o decorrer dos séculos a oposição entre hindus e muçulmanos aumentava constantemente.
Assim, para além dessas regiões formaram-se outras regiões, formaram-se outras ceitas, como a ceita dos Suchs, uma verdadeira religião que unia a concepção monoteísta do Islão e a tolerância que o Hinduísmo praticava, dando a ideia fundamental da moral e da fraternidade universal.
A corrente mística deu nova vida a literatura hindu no século XVI valendo uma das suas maiores obras poéticas (Almas das acções de Rama), escrita no começo do século XVII por Tulsi Das, cuja inspiração fez dele um livro santo que até hoje serve de base as concepções religiosas da Índia[11].
O império Mongol não tinha estabelecido um sistema único de governação para todos os povos, os muçulmanos isentos de pagarem imposto eram os privilegiados; os hindus submetidos a posições fiscais cada vez mais pesadas formavam uma massa submissa e por teve consequências hostil criando ódio religioso pelos muçulmanos que foi aumentando ao longo dos tempos.
Com isto, é o humanismo Persa, com os Grão-Mongóis que criaram acima das diversas raças e religiões a unidade do império. Durante o reinado de Xá Djehan (1627-1658), a Índia participa no esplendor da civilização Persa e dela que recebe a arquitectura das mesquitas de Agra, de Deli, de Lahore e de Didjapur, sendo contadas como as maiores obras-primas de todos os tempos.
O humanismo Persa, dando relevo ao individuo e atenuando a intransigência religiosa dos muçulmanos permitiu a colaboração desta cultura, dos elementos diversos de que compunha a população da Índia e assim o império de Deli criada pela conquista tornava-se num factor de unidade e de paz.
Alguns europeus contribuíram activamente no século XVII para o esplendor que a arte arábo-persa da Índia alcançou. Foram dois ocidentais (um veneziano e um francês) que construíram e decoraram os grandes túmulos que o Xá Djehan mandou construir em 1648 perto de Agra para si próprio e para a sua esposa Mahal, e que são uma das mais puras obras primas dessa época e uma das sete maravilha dos mundo.[12]
Os quadros oferecidos ao sultão de Deli pela embaixada britânica assim como holandeses e portugueses, no início do século XVII, exerceram sobre a arte da Índia introduzindo nela o retrato.
Com tudo, o esplendor da corte de Deli, que teve o seu período mais brilhante com Xá Djehan era ofuscado por um mal profundo que corria o império que é o Estatismo.
Para impor a sua autoridade no mundo múltiplo que constituía a Índia, os Grão-Mongóis de Deli tiveram que apertar o quadro administrativo num espírito rígido e autoritário, e para se manter essa administração os seus súbditos tiveram que suportar uma pressão fiscal cada vez mais dura, pois o estatismo dará origem a uma nobreza de funcionários que enriqueciam a custa do Estado onde usurpavam os poderes e os reduziam a impotência.
No decorrer do século XVII o número de funcionários duplicou; o fisco que foi usado para dar recursos ao Estado ia sendo absorvido por estes funcionários elevando assim os impostos prejudicando a população rural de tal maneira que apesar das suas riquezas, o Xá chegou ao estremo de ter que vender os cargos de governador de província constituindo assim uma classe de governadores hereditários que desmembraram em seu proveito o poder dos sultões.[13]

1.5 – O declínio do Império dos Grão-Mongois

Com o intuito de salvar o império que ia a caminho da anarquia Aurangzeb filho do Xá Djehan, destronou o seu pai em 1658 e empreendeu uma reforma profunda no governo, onde decide governar apenas com uma minoria muçulmana pertencente ao rito sunita que foi elevado a culto oficial. Os muçulmanos chiitas e os hindus foram afastados de todas as funções oficiais.
Esta reforma teve consequências desastrosas. Deli viu-se privado do apoio dos seus melhores funcionários. A Pérsia que era maioritariamente xiita tomou uma atitude hostil. Instalou uma revolta terrível no país dos Muharatas, que empreenderam contra Aurangzeb uma guerra de morte. E assim o reinado de Aurangzeb decorreu dai em diante no meio de constantes perturbações, que acabam por destruir a autoridade central.[14]
Após a sua morte (1707) os seus sucessores infernizados pela educação do Harém, sossobraram nas intrigas da corte. E em 12 anos o império foi dilacerado por 7 grandes conflitos de sucessão.
Isto porque com a imposição muçulmana dos sunitas pela força a todas as populações da Índia resultou numa série de reacções violentas, e assim privada do humanismo a Índia já não era uma 4specie de coesão moral. Assim abandonou a estrutura unitária dos Grão-Mongóis que invés de serem um instrumento de união e de paz se tornara num instrumento de opressão e se reagrupou de harmonia com as suas antigas tradições.
Assim, no antigo império dos Mongóis apareceram dois grupos de Estado: os estados muçulmanos constituído por antigos governadores dos sultões de Deli e estados hindus que se libertaram do domínio muçulmano, entre os quais destacam-se os Rajputos, os Moharatas e dos Sikhs[15].
- Os Rajputos formaram uma confederação feudal de Rajás hindus que se estendiam ao sul do Pendjab e a leste do hindu até ao Doab e aos montes Aravalles;
- Os Muharatas, de religião bramânica foram os mais encarniçados adversários de Auragzeb. Após a morte do mesmo Silvadji tomou o título de rei em 1708 começando o seu exército a lançar conquistas. O reino de Muharata tornava assim numa espécie de império feudal, dividido entre quatro grandes casas reunidas sob a soberania dos Techwas de Puna.
- Os Sikhs aparentemente aos afegãos, depois da perseguição de Auragzeb, lançaram-se numa revolta que deu origem a um Estado autónomo. Em 1764 apoderavam-se de Lahor. Se estendiam desde o vale do Indu até Beluquistão.
Enquanto se reconstituíam estes vastos estados hindus, as usurpações dos governadores muçulmanos davam origem a uma série de principados.
Sobre esta Índia assim fragmentada os sultões de Deli, que já não dominavam se não a região situada entre o Ganges e o Guzarete, assim como o Pendjab, continuavam a arrogar-se uma soberania imperial. Em 1737 os Moharatas surgiram diante de Deli e rejeitaram a soberania do sultão. Esta confição de fraqueza provocou imediatamente a uma sublevação dos afegãos, neste caso os Sikhs, que se libertaram da autoridade de Deli e se apoderaram do Pendjab.[16]
O império dos Grão-Mongóis caía assim em ruínas. Com a tomada de Deli em 1739, por Nadir Xá de Ispahan causou uma enorme cisão no mundo inteiro. Pois com esta decaída deixava de ser a capital do império, e um império sem capital não é império. Assim, a Índia entrava na anarquia.
Desde este momento, nenhum outro Estado hindu foi capaz de a defender contra outros invasores com sustentação de unidade como é o caso do domínio europeu.


Capítulo II – A Invasão portuguesa na Índia nos séculos XVI a XVII

Um notável historiador indiano o falecido K. M. Panikkar, afirmou no seu livro Ásia and Wester Dominano (1949), que a viagem pioneira a Índia inaugurou aquilo que ele denominou a era de Vasco da Gama na história asiática (1498-1945). Pois por volta de 1500 atravessar o oceano era considerado por muitas castas hindus superiores como uma profanação, pois a qual tinha de se realizar uma cerimonia de purificação maçadora e prolongadas.
Além disso, quem se esbarrava ou se misturasse com essas pessoas, vindas desses navios, que pertencessem aos muçulmanos ou não muçulmanos incorriam igualmente em profanação através dos contactos inevitáveis com indivíduos ritualmente impuros[17].
Nesta senda, a denominação do comercio do indico feita primeira vez pelos árabes e mais tarde pelos muçulmanos de origem hindu sobretudo pelos Guzaretes foi levada a cabo em ambos os casos muito pacificamente, devido a relação que os comerciantes tiveram com o tempo de arranjarem mulheres temporárias ou definitivas nos portos onde ficavam e os filhos eram quase educados como muçulmanos que quando cresciam ajudaram a espalhar a fé islâmica entre os compatriotas das suas mães fazendo crescer a fé e mais tarde foram concedidos aos comerciantes mais ricos de construírem mesquitas e enviarem Mullahas (missionários) que ajudaram a proclamar mais a fé islâmica.
Este acto consolidou o monopólio imediatamente que só poderia ser destruído pela força e não pela competência pacífica[18].
E para isso, os portugueses começaram a faze-lo com uma grande crueldade e uma rapidez surpreendente. Para conseguir levar acabo o seu objectivo, precisavam de alguns portos fortificados que servissem de bases navais e entrepostos comerciais. Estes portos chaves foram concedidos durante o comando de Afonso de Albuquerque (1509-1515).
Mais a situação vai alterar-se em 1600 quando receberá Portugal a concorrência de outras potencias europeias, onde apoiando-se mutuamente ingleses e holandeses empreenderam uma luta contra os portugueses tudo para deterem o monopólio comercial na Índia.

2.1 – A conquista incessante de Goa

A primeira expedição comandada por Vasco da Gama é escrita desde 1499 à 1500 onde tem o primeiro contacto com o Çamorim em Calecut sendo recebido com honras pois reconhecia Portugal como uma nação nobre, guerreira, rica e poderosa vinda das extremidades da terra. Assim, abriu os seus portões a Gama como embaixador de um dos maiores monarca do mundo onde neste contacto o Çamorim permitiu a Portugal a liberdade de comercio sem violência e sem prejuízo as outras nações que haviam sido as primeiras e as quais ele tinha fortes razões para protege-las.
Com esta conquista de Vasco da Gama, que atravessou os mares nunca antes navegados aumentou a glória de Portugal e o nome de el rei D. Manuel que se pronunciava com respeito em todo o mundo.
Depois da descoberta da Índia el rei denominava-se rei de Portugal dos Algarve de quem e de além mar em África, senhor da Guiné, da conquista, navegação e comercio da Etiópia, da Arábia, da Pérsia e da Índia.[19]
Depois dessas conquistas el rei de Portugal não parou enviando outros expedicionistas como Álvaro Cabral (1500-1503), a segunda vez de Vasco da Gama (1503-1504), surgindo então mais tarde as conquistas a estas regiões que interessavam ao rei de Portugal a partir dos relatos e comentários trazidos por estes homens.
A Índia de Goa segundo Boxer foi conquistada ao sultão no dia de Santa Catarina a 10 de Novembro de 1510 e em breve Goa “dourada” suplantava Calecut tornando-se o principal porto comercial entre Cambaia e o cabo de Çamorim.
Chagas Pinheiro afirma que a forma de Albuquerque conhecer a necessidade que tinha a metrópole de um porto de fácil defesa, mas que ao mesmo tempo fosse abundante em viveres onde, em fim, os portugueses cheios de fadiga pelas viagens da Europa a Índia pudessem repousar concluiu então que fosse Goa colocada no meio de Malabar, assente numa circunferência formada pela confluência de dois rios que nascendo do Gate vão desemborcar no mar.
O rei desta região de nome Adil- Kan e por corrupção Hidalcão, aproveitando-se da fraqueza do seu governo não tardou em usurpar Goa ao seu legitimo soberano assumindo o título e as regalias de príncipe independente.
Assim, Afonso de Albuquerque sem declarar o seu verdadeiro projecto saiu de Cochin com vinte embarcação com perto de 2000 portugueses e alguns malabares, no dia 28 de Fevereiro de 1510 atacam Goa nas duas fortes fortalezas (o forte de Pangim e de Bardéis).[20]  
Merque Cufergugi, governador de Goa saiu com grande força a fim de defender os pontos atacados e combater com todas as forças. Mas Afonso de Albuquerque triunfa facilmente e mal podendo acreditar fez a sua entrada pública a Goa montado em um magnífico cavalo Persa que fazia acompanhar-se do estandarte da cruz e da grande bandeira de Portugal.
A sua tropa o seguiu em ordem e a multidão aplaudia o vencedor que se dirigia ao palácio dando graças a Deus. O vencedor mandou proibir com as mais severas penas que se maltratassem os habitantes ou lhes tirassem suas fazendas. Os índios que ficaram foram bem tratados.
Houve nesta acção da parte dos portugueses 40 a 50 homens mortos e dos inimigos, podemos dizer que foi uma perda muito considerável, tanto dos que morreram ao ferro português como dos que se precipitavam do alto das muralhas e dos terraços das casas bem como os que se afogaram no mar[21].
Albuquerque resolvendo fazer de Goa uma cidade portuguesa, repartiu com os soldados os bens dos vencidos e casou-os com as filhas dos índios; cumprimentado em fim por embaixadores da maior parte dos soberanos da Índia e cercado por uma brilhante corte, pareceu então um digno representante de el rei D. Manuel.
Mas, em 1512 circulava uma notícia de que uma frota do califa viria recuperar Goa. Nisto, a 10 de Setembro de 1512, com 16 navios e, contando com 3000 portugueses de belíssima tropa e os auxiliares índios, preparava-se para a guerra.
Os inimigos defendiam-se com valor, mas tendo as suas baterias baixas Hidalkhan arvorou a bandeira branca. Os artigos de capitulação foram assinados contra a vontade dos oficiais que queriam tomar a praça por assalto.
As condições foram: que o inimigo sairia com os seus bens e suas pessoas salvas deixando ao vencedor a artilharia, as munições de guerra, cavalos e os navios que tinha na ilha. Quando o exército mandado pelo Hidalkhan chegou já era tarde.
Foi durante esta vitória que Portugal ficou senhor da ilha de Goa.

2.2 – A conquista de Malaca

Esta conquista colocou, antes de tudo, à mão dos portugueses ao maior centro distribuidor de especiarias no Indostão e simultaneamente uma base naval que controlava o comercio entre o Indico, o mar de Java e o mar Mediterrâneo por quanto a rota alternativa através do estreito de Sida era raramente utilizado.
No dia do apóstolo S. Tiago, em 1511, teve lugar o primeiro ataque contra Malaca. Quando os portugueses desembarcaram ainda não tinha amanhecido sofrendo ainda um vivíssimo fogo de artilharia e mosquiteira. D. João de Lima comandava o corpo que desembarcou a direita da ponte e, Afonso de Albuquerque pós pé em terra e os dois chefes concertaram o plano de atacar os inimigos pelos flancos fazendo depois junção na ponte.[22]
Os inimigos estavam a ser comandados por Aladin, o filho do rei Pam, seu cunhado auxiliado por um numeroso corpo de tropas, onde o príncipe ia montado num elefante precedido de outros dois e seguido por mais de 500 homens escoltando-o. Cada elefante levava sobre si uma torre guarnecida de homens armados.
Com muito esforço, os portugueses avançavam pela cidade derrotando os inimigos. No ataque ao palácio o rei tinha abandonado, retirando-se durante a noite para a corte do rei de Pam onde escreveu aos príncipes vizinhos empenhando-os no restabelecimento do seu poder.
            A cidade abandonada pelos habitantes foi entregue ao saque. Acharam-se tesouros imensos, armazéns cheios de ricas mercadorias e três mil peças de artilharia dos quais dois mil eram de bronze. Esta conquista feita por 800 portugueses e 400 malabares auxiliares, não custou mais de 8 homens por serem alvejados por flechas venenosas.
Os estrangeiros residentes em Malaca não foram incomodados, mas os naturais foram feito escravos.
Criaram-se leis promulgadas em Malaca, fundadas na equidade e justiça que foram recebidas pelos habitantes com agrado. Criou-se uma nova moeda e foi proibida o uso de outras sob pena de morte.
Nada faltava para que o espectáculo fosse grandioso. O governador Albuquerque em cima de um elefante com o seu castelo guarnecido de seda levando nas mãos a bandeira de Portugal caminhando pelos principais habitantes da cidade formados em duas alas, a multidão mal cabia nas ruas, tocavam vários instrumentos e quando caiam as moedas lançavam-se sobre elas colhendo uma riqueza para eles desconhecida e em alto clamor saudavam o Grande Afonso de Albuquerque.[23]
Estas façanhas de Albuquerque foram tornadas possíveis pelas anteriores distribuições de uma provisória armada egípcio-guzarete ao largo de Diu numa batalha comandada pelo seu predecessor Francisco de Almeida em Fevereiro de 1509 que vingou assim a derrota e a morte do seu filho nas mãos dos mesmos inimigos ocorridos no ano anterior em Chaul e que eliminou, deste modo a única força naval muçulmana capaz de enfrentar os navios de guerra portugueses mais ou menos em pé de igualdade.[24]

2.3 – As conversões ao cristianismo

O padre António Vieira, o grande missionário jesuíta português, na sua história do futuro observou o seguinte: “se não houvesse mercadores que fossem procurar os tesouros das terras orientais e nas índias, quem transportaria para lá os pregadores que levam os tesouros celeste? Os pregadores levam o evangelho e os mercadores levam os pregadores”.[25]
Com isso, podemos dizer, se os homens de Vasco da Gama diziam que tinham ido a Índia procurar cristãos e especiarias, a procura desta ultima foi efectuado com muito mais vigor do que com a preocupação da primeira.
Parte do clero secular pioneiro estava mais interessada em servir Manona do que Deus, como o grupo de clérigos seculares que disseram ao vigário de Malaca que “a razão principal porque viriam para o oriente era querer juntar uma fortuna em cruzadas; dizendo que não ficariam satisfeitas se não conseguissem obter no espaço de três anos cinco mil cruzados e muitas pérolas e rubis”. A maior parte das conversões conseguidas por este clérigo secular eram ou de mulheres asiáticas, que viviam maritalmente com portugueses, ou escravos domésticos ou de pobres e paríos esfomeados que se tornaram “cristãos de arroz”.
Claro que havia excepções, e a conversão em massa de pecadores por muito superficial que tenha sido de início, em 1537 obteve resultados posteriormente duradoiros.
Mas foi a Companhia de Jesus que no seu papel de ponto de Layola, igreja militarista, que tornou a luta pelas almas tão intensivas e alargadas como a competência pelas especiarias. Os filhos de Layola estabeleceram e mantiveram padrões muito mais elevados do que os seus predecessores e o notável desenvolvimento das missões portuguesas ocorridas entre 1550 e 1750 o que foi sobretudo obra sua para frequentemente provocar homenagem entusiástica dos protestantes, dos hostis e tudo mais.
Através de uma mistura de métodos de persuação e de força em que predominou mais força e muitos foram convertidos ao cristianismo sobretudo nas regiões da costa ocidental da Índia.
Começando com a destruição massiva dos templos índios de Goa em 1540, as autoridades portuguesas, instigadas pelos eclesiásticos locais e pelos os da coroa promulgaram um grande número de leis severas e opressivas com o objectivo de proibirem a prática pública da religião hindu, budista e islâmica em territórios controlado pelos portugueses.
As linhas mestras da política missionária foram determinadas por sucessivos concílios eclesiásticos que tiveram lugar periodicamente em Goa a partir de 1567. O primeiro concilio foi no mesmo ano pois a igreja pós Concilio de Trento estava no vigor inicial de suas forças e mesmo foram reafirmados apenas com ligeiras modificações nos concílios posteriores.
As suas deliberações foram ditadas por três considerações fundamentais e a última da qual se provou na prática ser difícil.
1º Todas as religiões que não a professassem a fé católica romana ortodoxia definidas pelo Concílio de Trento era implicitamente errada e nociva em si própria.
2º A coroa portuguesa tinha o inculcável direito de espalhar a fé católica romana e o poder secular de estado e podia ser utilizado para sustentar o poder espiritual da igreja.
3º A conversão não podia ser feito pela forca nem por ameaça de forca “porque ninguém chega ate Cristo pela fé a não ser que seja conduzido pelo pai celeste com amor voluntário e graças previamente”[26].
Com isto um decreto a 4 de Dezembro de 1567 ordenava o Inter alin, que todos os templos pagãos existentes em territórios controlados pelos portugueses deviam ser demolidos e que o nome de Maomet não devia ser invocado nas mesquitas na chamada oração dos muçulmanos. Os hindus e budistas estavam proibidos de visitarem os seus templos. A celebração de casamento público e de procissão religiosos não cristão foi estreitamente proibida.   
Todas as crianças órfãos hindus deviam ser afastadas se for preciso a força dos parentes e viriam a ser entregues a tutores ou pais adoptivos cristãos e preparados por padres católicos para receberem o baptismo.
Os não cristãos deviam ser descriminados oficialmente e legalmente, e não concorriam para os cargos públicos e lugares bem remunerados que não estivessem reservados. Esta intolerância religiosa provocou a expedição do Grão-Mongol Akbar que destruiu todos os estabelecimentos dos portugueses do Malabar.[27]
Mais apesar disso deve-se dizer que a influência cristão na Ásia nos anos de 1500 não se limitava aos indivíduos que aceitavam a conversão, houve missionários jesuítas residentes nas cortes dos Grão-Mongóis se bem que, as suas esperanças de converte-los tinham sido fracassadas.

2.4 – As especiarias na Índia portuguesa

É imprescindível que a ideia que prevaleceu na acção colonial dos portugueses foi mais elevada que a simples cede do lucro na posse do monopólio das índias. Sem duvida o objectivo do rei de Portugal era obter, graças ao monopólio colonial e comercial, os recursos necessários a política hegemónica que praticava-se na Europa.
Os planos portugueses para estabelecerem um monopólio efectivo no comércio das especiarias foram contrariados por outros factores como a falta de navios e homens.
A produção da especiaria na Ásia e a procura na Europa duplicava aproximadamente durante a segunda metade do século XVII. As quantidades globais dos carregamentos trazidos pelos portugueses através da rota do Cabo foram avaliados num total anual de quarenta mil a cinquenta quintaes, no primeiro trimestre do século XVII destacou sessenta mil a setenta quintaes.[28]
A percentagem da pimenta nestes carregamentos oscilavam entre 10 a 45.000 quintaes, mais durante muito tempo cifrou-se entre 20 a 30 000 quintaes. As outras especiarias como a canela, cravo-da-índia, macis, noz-moscada, gengibre cifrava-se em 5 a 10 000 quintaes nos carregamentos anuais.
Com a chegada dos ingleses e holandeses no advento do século XVII, a posição de Portugal deteriorou-se, mas ainda em 1611 se declarava em Lisboa que a pimenta era a mercadoria fundamental do comércio português com a Índia e que era única a dar um lucro satisfatório a coroa. Durante a maior parte do século XVI os comerciantes de Malabar recusara-se aceitar o pagamento da pimenta em tudo que não seja ouro, apesar disso, os portugueses nunca tiveram de enviar tanta moeda em Lisboa. Infelizmente os registos das casas de moeda de Goa e de Coxim perderam-se, e os números que indicam as somas de dinheiro enviados anualmente de Lisboa para a Índia estão longe de ser completos.
Originalmente a venda da pimenta em Lisboa estava aberta a todos os indivíduos, mas a partir de 1503 todos os produtos importados passaram a ser vendidos pela casa das índias.
Calecut era então a cidade mais opulento da Índia a ponto geral de reunir todas as riquezas e preciosidades do oriente. Com uma mercadoria de se invejar viam-se gerir no comércio os diamantes e as pedras preciosas das ricas minas do Indostão, as pérolas, o ouro, a prata, o âmbar, o marfim, a porcelana, os estofos de seda, os de linha estampadas, o algodão, o anil, o açúcar, as especiarias de toda sorte como a madeira preciosa e não só, que eram muito importante na Europa para a construção de casas e embarcações uma vez que estavam escassas e, sem esquecer os aromas e geralmente tudo que podia contribuir para uso e para as delicias da vida.[29]
Portanto, a Índia era um paraíso a se descobrir e a ocupar para se ter o monopólio comercial de todas estas especiarias que aumentavam as receitas dos monarcas e o seu reconhecimento pelo mundo.


2.5 – Declínio do Império português na Índia

Com o passar do tempo o mesmo tinha que fatalmente entrar em crise. Pois o espaço era demasiado delatado e complexo para os recursos que dispunham a Metrópole. Do ponto de vista militar não tinha gente para manter este controlo, e economicamente carecia de um sistema que se adaptassem as novas realidades.
Pois os portugueses viam surgir neste comércio estados mais fortificados militarmente do que eles como os ingleses, os holandeses e mais tarde os franceses que criavam companhias para as índias; isto em 1600 para os ingleses e 1602 para os holandeses (índias orientais), isto para deter o comercio do monopólio na Índia.
Assim ingleses e holandeses apoiavam-se mutuamente empreendendo uma luta contra os portugueses.
Este uso do monopólio para Portugal, trouxe prejuízo a coroa. A Europa avançara muito e estava-se em plena Idade Moderna. O Renascimento alargara os seus horizontes. A reforma cindira a cristandade e diminuiria os poderes autoritários da autoridade do papa. E assim Portugal não conseguira seguir estas evoluções ficando sempre estagnado no tempo, facilitando outras potências terem o domínio do monopólio comercial na Índia.


Conclusão

Nesta investigação constatamos que para concretizar os seus objectivos que era ter o monopólio comercial da região oriental, Portugal esbarra-se em algumas regiões sob o domínio muçulmano do então império Grão-Mongol.
A actual península do Indostão constituiu o todo deste império, onde, depois da descoberta de Portugal seis grandes cidades deste império se destacavam: o mesmo foi governado por imperadores onde se destacou Akbar que, pelas suas conquistas e extensão do império mereceu grande respeito temeroso por parte dos europeus, principalmente dos portugueses, que lhe chamaram o Grão-Mongol.
O mesmo império foi um viveiro de religiões onde se destacam o bramanismo, o hinduísmo, o budismo, o islamismo e o cristianismo.
Com a chegada dos portugueses em 1500 as coisas modificaram-se para estes habitantes. Portugal com objectivos económicos, políticos e religiosos muda o curso da história deste império.
Sob o comando de Afonso de Albuquerque conquistam regiões importantíssimas no comércio das especiarias como Calecut, Goa, Malaca e Ormuz.
Os ataques portugueses acabaram por se malograr nas primeiras tentativas e foi graças a tenacidade de Afonso de Albuquerque em tentar outra vez que tiveram eventualmente êxito.
Apesar do contributo de Afonso de Albuquerque para a conquista de territórios na Índia, deve-se também lembrar as ajudas prestadas pelos bravos soldados e pelo el rei D. Manuel de Portugal.







Referências bibliográficas

ALBUQUERQUE, Luís; MARIA, Ana e ALÇADA, Isabel. Os Descobrimentos Portugueses: viagens e aventuras, Editora Caminhos, Lisboa, 1991.
BOXER, C. R., Império Colonial Português (1415-1825), Edições 70, Lisboa, 1969.
CHAGAS, Pinheiro. Os Portugueses na África, Ásia, América e Oceânia, Tomo II, 1890.
CHAGAS, Pinheiro. Os Portugueses na África, Ásia, América e Oceânia, Tomo III, 1890.
PIRENNE, Jacques. As Grandes Correntes da História Universal, vol. II, 2ª edição, S.I.C. Luso Brasileira, 1952.
ROBERTS, J. M., Breve História do Mundo: dos Islão a expansão marítima, Editora Presença, Lisboa, 1996.
RODRIGUES, Adriano Vasco. História Geral das Civilizações Modernas e Contemporâneas, vol. II, Porto Editora, (s/d).
SOUSA, Osvaldo Rodrigues. História Geral: da Pré-História aos Últimos Factos do nosso Tempo, Editora ática, 19ª edição, São Paulo, 1980





[1] Chagas Pinheiro, Os portugueses na África, Ásia, América e Oceânia, vol. II, Livraria de António Pereira, liboa, 1890, p. 80
[2] Roberts. J. M., Breve História do Mundo, vol. II, Editora Presença, Lisboa, 1996, p. 171
[3] Idem
[4] Ibdem, p.172
[5] Ibdem
[6] Antigos filósofos da Etiópia, os quais andavam quase nus e levavam uma vida muito austera e contemplando a natureza.
[7] Pinheiro Chagas, op cit, p. 80
[8] Ibdem, p. 84
[9] Roberts, J. M., op cit, p. 141
[10] Ibdem, p. 175
[11] Pirene, J. op cit, p. 291
[12] Ibdem, 292
[13] Ibdem, 294
[14] Idem
[15] Ibdem, p. 295
[16] Idem, p. 296
[17] Boxer, op cit, p. 59
[18] Ibdem, p. 60
[19] cf. Pinheiro, Chagas, idem, p. 95
[20] Pinheiro, Chagas, tomo III, p. 24
[21] Ibdem, p. 37
[22] Idem, p. 44
[23] cf Pinheir, C., IIº , P. 52
[24] cf Boxer, op cit, p. 61
[25] Ibdem, p. 81
[26] Ibdem p.85

[27] cf Pirene, J. IIIº , p. 298
[28] cf. Boxer, idem, p. 75
[29] cf. Chagas, IIº , p. 85

POR DOMINGOS SEGREDO MANUEL, LICENCIANDO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO - HISTÓRIA

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