A
Índia nos séculos XVI-XVII: invasão portuguesa, Império Grão-Mongol
Introdução
Quais eram então os motivos que levaram os portuguesas até a Índia?
Estando na Índia o que fizeram com os habitantes da mesma?
Segundo Jacques Pirenne (1952), Pinheiro Chagas (1890), Boxer (1969) e
Roberts (1996) afirmam que as causas não eram sede cientificas mas sim causas
económicas como a procura de metais preciosos e especiarias.
É que a Europa no século XIV e XV carecia de metais preciosos como o ouro
e a prata que eram tão necessários para os estados europeus. Estavam numa
economia mercantil e precisavam de numerários para os gastos da monarquia no processo
de centralização.
Os estados europeus não tinham ouro e prata suficiente para pagar os
mercadores marroquinos que faziam a venda desses produtos com ouro. Sem
esquecer as especiarias que acabavam por tornar-se importantíssimas para a
Europa pois era muito consumida na medicina ou farmacologia e na culinária
tornando-se importante na sociedade europeia.
Estes produtos vinham da Ásia e com a investida dos turcos em 1453
tomando Bizâncio passam a controlar importantes portos como o de Alexandria e
de Constantinopla. Assim, os comerciantes genoveses e venezianos passam a pagar
aos turcos tarifas elevadas causando assim o aumento do preço das mercadorias.
Nesta senda dar-se-á o agravamento para os estados europeus pois neste
comércio os mesmos não tinham receitas financeiras para equilibrar o comércio
com os asiáticos. Sem recursos financeiros para os elevados preços destes
produtos levará os europeus a criarem uma via para evitarem os turcos e
chegarem até a fonte desses minerais e das especiarias.
Foi esta procura incessante que levou os portugueses a Índia pois ela era
considerada o centro comercial de especiarias.
Neste contexto, para explicarmos esta invasão portuguesa a Índia
decidimos esmiúça-lo em dois capítulos.
No primeiro capítulo destacamos o Império Grão-Mongol desde o seu
surgimento na Índia, fazendo uma abordagem abrangente das suas castas, a forma
de administração do Império no reinado de Akbar até o seu declínio.
Já no segundo capítulo fizemos abordagem da invasão portuguesa na Índia
nos séculos XVI a XVII. Como não podia deixar de ser mencionamos as conquistas
portuguesas em Goa e Malaca, falamos da conversão da população autóctone ao
cristianismo e, por fim, tocamos no objectivo que levou os portugueses à Índia
sendo seguido mais tarde por outros estados europeus.
Este trabalho é de estrema importância pois ajuda-nos a compreender que
por trás das causas primárias têm sempre causas secundarias que são normalmente
ofuscadas para não despertar a hostilidade da população. Também neste trabalho,
antes desconhecido por mim, ajudou-me na procura e compreensão do material.
Para a conclusão do mesmo contei com a pesquisa bibliográfica de autores
que estão mencionados na última página, embora houvesse mais conteúdos, mas
como o importante não é o volume do material, mais a sistematização lógica
apoiamo-nos simplesmente nos autores referidos.
Sem mais delongas apresento-vos este trabalho investigativo.
Capítulo I – O Império Grão-Mongol
A actual Península do Indostão foi quase o todo do Império Grão-Mongol.
No tempo em que os portugueses o descobriram estava repartido entre cinco
poderosos monarcas, e cada um dos quais tinha muito reis tributários. Eram os
reis de Cambaia, de Deli, Decau, Narsinga e Calecut. Este último era conhecido
de Çamorim, que corresponde ao título de Imperador. Os seus estados eram os
mais banhados pelo mar e se estendiam em toda a península.
Estes príncipes eram na sua maioria muçulmanos de região, embora
existissem as antigas idolatrias que eram transmitidas de indivíduo a indivíduo
sendo a religião dominante entre a população como o bramanismo e o budismo[1].
1.1 – Surgimento do Império
Não se pode falar deste império na Índia sem antes partir do objecto sine
qua non para o surgimento deste grande império que é o domínio muçulmano.
Este domínio durou em algumas regiões até 1857. O Islão chegara a Índia
de início através dos comerciantes árabes da costa oriental.
O Islão encontrava-se estabelecido no sub-continente, constituindo o
maior desafio jamais feito a capacidade assimiladora da Índia pois os seus
estilos baseados na acção, na procissão e na revelação, era totalmente
autentico em relação ao hinduísmo ao budismo, embora o Islão fosse também
transformada ou alterada por estas religiões[2].
Nesta senda, novos sultões se sucederam em Deli, mais durante muito tempo
não demonstraram poder suficiente para restauração do antigo império islâmico.
Este só foi
restabelecido no século XVI pelo príncipe Babur de Cabul vindo do exterior. Por
parte do pai descendia de Timur e por parte da mãe de Chinghis, referência
extraordinária de um jovem moldado na diversidade.
Cedo descobriu a necessidade de lutar pela sua herança e poucos nomarcas
terão tido capacidade de conquista demonstrada por Babur, onde aos 14 anos
conquistava uma cidade de importância de Samar Canda embora viesse perder quase
de imediato.
Mesmo pondo de parte as lendas e as anedotas, Babur permanece apesar da
sua crueldade e duplicidade uma das figuras mais atraentes entre os grandes
governantes, dadas as suas qualidades de munificiência, destemor, coragem,
inteligência e sensibilidade. Deixou-nos uma auto biografia escrita ao longo da
sua vida que seria observada pelos descendentes como fonte de orientação e
orientação. Esta obra mostra-nos um governante que não se considerava Mongol
pela cultura mais turco segundo a tradição dos povos a muito fixadas nas
antigas províncias orientais do Califado Abassida[3].
O seu gosto e a sua cultura foram formados pela herança dos príncipes
Timurides da Pérsia de onde provinha também o seu amor pela jardinagem e pela
poesia enquadrando-se facilmente no ambiente de uma Índia islâmica cuja as
culturas cortesãs já se encontravam muito influenciadas por modelos persas.
Babur era um bibliófilo, dizendo-se que após conquistar Lahore se dirigiu
imediatamente a biblioteca do seu adversário derrotado para escolher obras que
enviou como presente aos seus filhos. Ele próprio escreveu um relato de 40
páginas as suas conquistas no Indostão realçando os seus costumes e estruturas
de castas, a flora e a fauna.
Este jovem príncipe foi chamado a Índia em auxílio dos chefes afegãos
mais tinha as suas próprias reivindicações a apresentar, quanto a herança da
linhagem Timurde do Indostão. Este será o início da Índia Mongol sendo este o
étimo persa para Mongol, embora Babur não aplicasse a si próprio.
Em 1526 conquista Deli, depois da morte do sultão em combate. Em breve
Babur dominaria os que o tinham convidado a dirigir-se a Índia derrotando ao
mesmo tempo os príncipes hindus infiéis que tinham aproveitado a oportunidade
para restaurar a sua própria independência.
Assim, nasceu um Império que em 1530, ano da sua morte, se estendia desde
Cabul até aos limites de Bihar, isto no monte da península do Indostão. Na sua
morte foi transportado o seu corpo como ordenara para Cabul tendo sido
sepultado em campa Rosa
no jardim preferido, no local que sempre considerava como a sua casa.[4]
Depois da sua morte, é sucedido pelo seu filho. O reinado do filho de
Babur foi sempre perturbado pela instabilidade e incapacidade do novo rei sem
esquecer a presença de meios irmãos desejosos de explorarem a tradição Timurde
que tal como a dos francos que previa a partilha de herança real, mostrou que a
segurança e a consolidação do reino de Babur não podia ser considerada garantida.
Durante os cinco anos do seu reinado, o filho de Babur, cujo nome é
desconhecido, foi expulso de Deli, embora ali regressasse para morrer em 1555.[5]
O seu herdeiro Akbar, nascido durante a deambulação angustiada do seu
pai, mas beneficiando de um horóscopo muito auspicioso e de ausência de irmãos
rivais, subiu ao trono ainda criança. Herdou inicialmente apenas uma pequena
parte dos domínios do avô, mas sobre ela construiria um império que recordava o
de Asoka merecendo respeito temeroso dos europeus, principalmente os
portugueses que lhe chamavam o “Grão-Mongol”.
Akbar possuía muitas qualidades reais sendo corajoso até a insensatez
sendo o maior defeito a teimosia, apreciando em criança montar os seus
elefantes de combate e preferindo a caça com falcões ao estudo, e em
consequência dessa preferência Akbar era iletrado caso único da linhagem de
Babur.
Porém, era também como os seus predecessores um admirador da sabedoria e
de tudo o que era belo. Coleccionou livros e no seu reinado a arquitectura e a pintura
Mongol atingiram o seu apogeu mantendo a sua custa um grupo de pintores na sua
corte.
Acima de tudo, Akbar era um estadista na forma de lidar com os problemas
colocados pelas diferentes religiões existentes entre os soldados. Akbar reinou
quase meio século (1555 à 1605), ultrapassando assim ligeiramente a duração do
reinado da sua contemporânea a rainha Isabel da Inglaterra.
1.2 – Religião e as castas no império
Neste império observa-se uma distinção de castas ou tribos de que
conhecemos graças aos antigos geógrafos e escritores que se ocuparam das acções
de Alexandre o Grande. Entre estas castas distinguem-se por nascimento e da
superioridade que conservavam uma sobre outras e as mais consideradas eram as
dos Brâmanes e a dos nobres.
Os Brâmanes nascidos do sangue dos antigos Ginosofistas[6],
herdeiros de seus antepassados, os oráculos de seus deuses, os interpretes de
suas leis e os únicos que tinham direito ao sacerdócio e ao ministério dos
altares. Eles reconheciam um ser supremo chamado Parabrama o qual produziu três
deuses superiores a todos os outros, que não formam todos juntos mais do que
uma divindade. Entre eles destaca-se Brama, o primeiro dos três que é o Deus
criador, dele saíram os deuses inferiores e todos os seres visíveis e
invisíveis. Vixenu, o Deus conservador e Rutrem, o Deus destruidor.
Os Brâmanes, em memória destes deuses trazem no pescoço três cordãos
unidos e compostos cada um de três fios de diferentes cores, como testemunho de
sua procissão de fé, que se presume ser uma ideia corrompida da revelação do
ministério da trindade[7].
Além desses
deuses há uma infinidade de outros espalhados por diversos chorcasmos ou
paraíso. Suas ideias sobre a incarnação de seus deuses têm muita relação com as
fábulas da mitologia grega em suas diferentes classes de divindade e a ideia
dos antigos egípcios. A sua doutrina sobre a palingenesia ou a reprodução do
mundo e a transmigração das almas é inteiramente conforme a de Plantão e a de
Pitágoras.
O Veda é dividido em cinco livros e contem toda a sua religião, seus
mistérios e preceitos, eles o têm de uma tradição imemorial. O Veda é
respeitado entre eles como a santa escritura para os cristãos.
A segunda casta é a dos nobres onde se consideram a alta e a pequena
nobreza. Pertencem a alta nobreza os Rajaes e os Caimães que são pequenos
soberanos ou outras pessoas qualificadas entre os europeus os duques e os
condes. A pequena nobreza compreende os nobres puros. Estes fazem profissão das
armas e são educados desde a idade dos sete anos em academias análogas dos
antigos cavaleiros europeus. Não podem servir no exército nem pegar em armas
enquanto o curso não terminar.
Aqueles chamados afeiçoados entre os nobres e que ligavam a sua vida por
juramento a um príncipe são de todos eles os mais temidos e perigosos.
As demais castas são dos povos miúdos que distinguissem segundo o
comentário de Heródoto e os primeiros egípcios pelas suas profissões
destacando-se os negociantes, lavradores, guardadores de gado e os ladrões. A
mais miserável de todas as castas é a dos párias, os quais comem carne dos
animais e por este motivo se tornam tão abomináveis que apenas são olhados como
homens[8].
Os seus templos eram magníficos, houve alguns autores que afirmavam que
só o pórtico de um desses templos onde guardavam as vítimas destinadas ao
sacrifício se compunham de 70 colunas que se igualavam a beleza de pantéon de
Roma. Seus pagodes são muito ricos, seus mosteiros muito numerosos bem
fundamentados, seus ídolos carregados de jóias de valores incalculáveis. E
Calecut era então a sede do sacerdócio e do império e ao mesmo tempo a cidade
mais oponente a ponto geral de reunir todas riquezas e preciosidade do Oriente.
1.3 – A política e administração do império no reinado
de Akbar
Ao atingir a maturidade, um dos seus primeiro acto foi o casamento com a
princesa Rajaput, que era obviamente hindu. O casamento desempenhou sempre um
importante na diplomacia e nas estratégias de Akbar, pois a referida princesa
era filha do importante rei de Rajaput e, portanto, um bom partido. Além do
político este casamento teve outros efeitos pois Akbar já permitia as mulheres
hindus do seu harim a prática do rito da sua própria religião, acto sem
precedente para um governante muçulmano.
Aboliu o imposto individual e, sobre os não muçulmanos, já que viria
tornar-se o imperador de todas as religiões e não um muçulmano fanático.
Akbar chegou mesmo a contactar mestres cristãos, convidando os
portugueses que tinham surgido na costa ocidental a enviar para a sua corte
missionários que fossem bom conhecedores da fé, pelo que três jesuítas ali
chegaram em 1520.
Estes dissertaram vigorosamente com teólogos muçulmanos embora ficassem
defraudados da sua esperança a muito acalentada pela sua conversão. Akbar
parecia ter sido homem de sentimento religioso genuíno e de mente eclética
chegando mesmo a tentar estruturar uma nova religião de sua autoria, denominada
a Mecla do Zoroastrismo, Islão e Hinduísmo. Essa nova religião teve pouco
sucesso excepto entre alguns cortesãos prudentes e ofendendo alguns deles.[9]
Qualquer que seja a interpretação feita, o que se sabe é que o apaziguamento
dos não muçulmanos facilitaram os problemas do governo na Índia. Assim, os
conselhos de Babur escrito nas suas memórias sobre o apaziguamento dos inimigos
derrotados apontavam também nesta direcção pois Akbar lançara-se numa série de
conquistas e acrescentara muito novos territórios hindus ao seu império
reconhecido assim como a unidade do norte da Índia desde Gujarat a Benguela e
iniciando uma conquista do Decan.
Este mesmo império era governado segundo um sistema administrativo grande
do qual sobreviveu até a época da soberania britânica, embora Akbar não fosse
um inovador no plano governativo mais principalmente o continuador e defensor
das instituições que herdara. Os funcionários governavam em nome do imperador e
a seu belo prazer, tendo como funções primordiais o recrutamento de soldados
sempre que necessário e a cobrança de impostos sobre a terra, este agora
formulado num sistema mais flexível a escala imperial organizado por um
ministério das Finanças hindu que parece ter tido um sucesso extraordinário
pois conduziu ao aumento da produção que elevara o nível de vida do Indostão.[10]
Estas e outras reformas notáveis são resultados encontrados e
restringindo numa prática designada por Suttee.
Acima de tudo, Akbar estabilizou o regime. Apesar de se ter desiludido
com os seus filhos e de ter lutado contra eles, a dinastia estava fortemente
consolidada até a época da sua morte. Apesar disso ocorreu revoltas, algumas
das quais fomentadas pela ira dos muçulmanos perante o afastamento da fé por
parte de Akbar.
Outra importante evolução verificada no final do reinado de Akbar foi a
consolidação da primeira relação directa da Índia com a Europa atlântica.
Viajantes europeus tinham se dirigido ocasionalmente a Índia cujos
governantes conseguiram atrair alguns técnicos para os seus serviços, embora em
número mais reduzido depois das conquistas otomanas.
Porém, o que estava para acontecer teria maior consequência e mudaria a
Índia para sempre. Os europeus que agora chegavam seriam seguidos por outros em
número crescente e ali se fixem.
1.4 – A unidade da Índia sobre o domínio dos
Grão-Mongois
A Índia na realidade é uma amálgama de raças e de nações seguidas pelas
diferenças profundas entre as concepções de muçulmanos monoteístas e dos hindus
politeístas. Por tanto, acima das divergências que ela tem, a Índia adquire
assim uma espécie de unidade somente de superfície pois mesmo com o decorrer
dos séculos a oposição entre hindus e muçulmanos aumentava constantemente.
Assim, para além dessas regiões formaram-se outras regiões, formaram-se
outras ceitas, como a ceita dos Suchs, uma verdadeira religião que unia a
concepção monoteísta do Islão e a tolerância que o Hinduísmo praticava, dando a
ideia fundamental da moral e da fraternidade universal.
A corrente mística deu nova vida a literatura hindu no século XVI valendo
uma das suas maiores obras poéticas (Almas das acções de Rama), escrita no
começo do século XVII por Tulsi Das, cuja inspiração fez dele um livro santo
que até hoje serve de base as concepções religiosas da Índia[11].
O império Mongol não tinha estabelecido um sistema único de governação
para todos os povos, os muçulmanos isentos de pagarem imposto eram os
privilegiados; os hindus submetidos a posições fiscais cada vez mais pesadas
formavam uma massa submissa e por teve consequências hostil criando ódio
religioso pelos muçulmanos que foi aumentando ao longo dos tempos.
Com isto, é o humanismo Persa, com os Grão-Mongóis que criaram acima das
diversas raças e religiões a unidade do império. Durante o reinado de Xá Djehan
(1627-1658), a Índia participa no esplendor da civilização Persa e dela que
recebe a arquitectura das mesquitas de Agra, de Deli, de Lahore e de Didjapur,
sendo contadas como as maiores obras-primas de todos os tempos.
O humanismo Persa, dando relevo ao individuo e atenuando a intransigência
religiosa dos muçulmanos permitiu a colaboração desta cultura, dos elementos
diversos de que compunha a população da Índia e assim o império de Deli criada
pela conquista tornava-se num factor de unidade e de paz.
Alguns europeus contribuíram activamente no século XVII para o esplendor
que a arte arábo-persa da Índia alcançou. Foram dois ocidentais (um veneziano e
um francês) que construíram e decoraram os grandes túmulos que o Xá Djehan
mandou construir em 1648 perto de Agra para si próprio e para a sua esposa
Mahal, e que são uma das mais puras obras primas dessa época e uma das sete
maravilha dos mundo.[12]
Os quadros oferecidos ao sultão de Deli pela embaixada britânica assim
como holandeses e portugueses, no início do século XVII, exerceram sobre a arte
da Índia introduzindo nela o retrato.
Com tudo, o esplendor da corte de Deli, que teve o seu período mais
brilhante com Xá Djehan era ofuscado por um mal profundo que corria o império
que é o Estatismo.
Para impor a sua autoridade no mundo múltiplo que constituía a Índia, os
Grão-Mongóis de Deli tiveram que apertar o quadro administrativo num espírito
rígido e autoritário, e para se manter essa administração os seus súbditos
tiveram que suportar uma pressão fiscal cada vez mais dura, pois o estatismo
dará origem a uma nobreza de funcionários que enriqueciam a custa do Estado onde
usurpavam os poderes e os reduziam a impotência.
No decorrer do século XVII o número de funcionários duplicou; o fisco que
foi usado para dar recursos ao Estado ia sendo absorvido por estes funcionários
elevando assim os impostos prejudicando a população rural de tal maneira que
apesar das suas riquezas, o Xá chegou ao estremo de ter que vender os cargos de
governador de província constituindo assim uma classe de governadores
hereditários que desmembraram em seu proveito o poder dos sultões.[13]
1.5 – O declínio do Império dos Grão-Mongois
Com o intuito de salvar o império que ia a caminho da anarquia Aurangzeb
filho do Xá Djehan, destronou o seu pai em 1658 e empreendeu uma reforma
profunda no governo, onde decide governar apenas com uma minoria muçulmana
pertencente ao rito sunita que foi elevado a culto oficial. Os muçulmanos
chiitas e os hindus foram afastados de todas as funções oficiais.
Esta reforma teve consequências desastrosas. Deli viu-se privado do apoio
dos seus melhores funcionários. A Pérsia que era maioritariamente xiita tomou
uma atitude hostil. Instalou uma revolta terrível no país dos Muharatas, que
empreenderam contra Aurangzeb uma guerra de morte. E assim o reinado de
Aurangzeb decorreu dai em diante no meio de constantes perturbações, que acabam
por destruir a autoridade central.[14]
Após a sua morte (1707) os seus sucessores infernizados pela educação do
Harém, sossobraram nas intrigas da corte. E em 12 anos o império foi dilacerado
por 7 grandes conflitos de sucessão.
Isto porque com a imposição muçulmana dos sunitas pela força a todas as
populações da Índia resultou numa série de reacções violentas, e assim privada
do humanismo a Índia já não era uma 4specie de coesão moral. Assim abandonou a
estrutura unitária dos Grão-Mongóis que invés de serem um instrumento de união
e de paz se tornara num instrumento de opressão e se reagrupou de harmonia com
as suas antigas tradições.
Assim, no antigo império dos Mongóis apareceram dois grupos de Estado: os
estados muçulmanos constituído por antigos governadores dos sultões de Deli e
estados hindus que se libertaram do domínio muçulmano, entre os quais
destacam-se os Rajputos, os Moharatas e dos Sikhs[15].
- Os Rajputos formaram uma confederação feudal de Rajás hindus que se
estendiam ao sul do Pendjab e a leste do hindu até ao Doab e aos montes
Aravalles;
- Os Muharatas, de religião bramânica foram os mais encarniçados
adversários de Auragzeb. Após a morte do mesmo Silvadji tomou o título de rei
em 1708 começando o seu exército a lançar conquistas. O reino de Muharata
tornava assim numa espécie de império feudal, dividido entre quatro grandes
casas reunidas sob a soberania dos Techwas de Puna.
- Os Sikhs aparentemente aos afegãos, depois da perseguição de Auragzeb,
lançaram-se numa revolta que deu origem a um Estado autónomo. Em 1764
apoderavam-se de Lahor. Se estendiam desde o vale do Indu até Beluquistão.
Enquanto se
reconstituíam estes vastos estados hindus, as usurpações dos governadores muçulmanos
davam origem a uma série de principados.
Sobre esta Índia assim fragmentada os sultões de Deli, que já não
dominavam se não a região situada entre o Ganges e o Guzarete, assim como o
Pendjab, continuavam a arrogar-se uma soberania imperial. Em 1737 os Moharatas
surgiram diante de Deli e rejeitaram a soberania do sultão. Esta confição de
fraqueza provocou imediatamente a uma sublevação dos afegãos, neste caso os
Sikhs, que se libertaram da autoridade de Deli e se apoderaram do Pendjab.[16]
O império dos Grão-Mongóis caía assim em ruínas. Com a tomada
de Deli em 1739, por Nadir Xá de Ispahan causou uma enorme cisão no mundo inteiro.
Pois com esta decaída deixava de ser a capital do império, e um império sem
capital não é império. Assim, a Índia entrava na anarquia.
Desde este momento, nenhum outro Estado hindu foi capaz de a defender
contra outros invasores com sustentação de unidade como é o caso do domínio
europeu.
Capítulo II – A Invasão portuguesa na Índia nos séculos XVI a XVII
Um notável historiador indiano o falecido K. M. Panikkar, afirmou no seu livro Ásia and Wester Dominano (1949), que a
viagem pioneira a Índia inaugurou aquilo que ele denominou a era de Vasco da
Gama na história asiática (1498-1945). Pois por volta de 1500 atravessar o
oceano era considerado por muitas castas hindus superiores como uma profanação,
pois a qual tinha de se realizar uma cerimonia de purificação maçadora e
prolongadas.
Além disso, quem se esbarrava ou se misturasse com essas pessoas, vindas
desses navios, que pertencessem aos muçulmanos ou não muçulmanos incorriam
igualmente em profanação através dos contactos inevitáveis com indivíduos
ritualmente impuros[17].
Nesta senda, a denominação do comercio do indico feita primeira vez pelos
árabes e mais tarde pelos muçulmanos de origem hindu sobretudo pelos Guzaretes
foi levada a cabo em ambos os casos muito pacificamente, devido a relação que
os comerciantes tiveram com o tempo de arranjarem mulheres temporárias ou definitivas
nos portos onde ficavam e os filhos eram quase educados como muçulmanos que
quando cresciam ajudaram a espalhar a fé islâmica entre os compatriotas das
suas mães fazendo crescer a fé e mais tarde foram concedidos aos comerciantes
mais ricos de construírem mesquitas e enviarem Mullahas (missionários) que
ajudaram a proclamar mais a fé islâmica.
Este acto consolidou o monopólio imediatamente que só poderia ser
destruído pela força e não pela competência pacífica[18].
E para isso, os portugueses começaram a faze-lo com uma grande crueldade
e uma rapidez surpreendente. Para conseguir levar acabo o seu objectivo,
precisavam de alguns portos fortificados que servissem de bases navais e
entrepostos comerciais. Estes portos chaves foram concedidos durante o comando
de Afonso de Albuquerque (1509-1515).
Mais a situação vai alterar-se em 1600 quando receberá Portugal a
concorrência de outras potencias europeias, onde apoiando-se mutuamente
ingleses e holandeses empreenderam uma luta contra os portugueses tudo para
deterem o monopólio comercial na Índia.
2.1 – A conquista incessante de Goa
A primeira expedição comandada por Vasco da Gama é escrita desde 1499 à
1500 onde tem o primeiro contacto com o Çamorim em Calecut sendo recebido com
honras pois reconhecia Portugal como uma nação nobre, guerreira, rica e
poderosa vinda das extremidades da terra. Assim, abriu os seus portões a Gama
como embaixador de um dos maiores monarca do mundo onde neste contacto o
Çamorim permitiu a Portugal a liberdade de comercio sem violência e sem
prejuízo as outras nações que haviam sido as primeiras e as quais ele tinha
fortes razões para protege-las.
Com esta conquista de Vasco da Gama, que atravessou os mares nunca antes
navegados aumentou a glória de Portugal e o nome de el rei D. Manuel que se pronunciava com respeito em todo o mundo.
Depois da descoberta da Índia el
rei denominava-se rei de Portugal dos Algarve de quem e de além mar em
África, senhor da Guiné, da conquista, navegação e comercio da Etiópia, da
Arábia, da Pérsia e da Índia.[19]
Depois dessas conquistas el rei
de Portugal não parou enviando outros expedicionistas como Álvaro Cabral
(1500-1503), a segunda vez de Vasco da Gama (1503-1504), surgindo então mais
tarde as conquistas a estas regiões que interessavam ao rei de Portugal a
partir dos relatos e comentários trazidos por estes homens.
A Índia de Goa segundo Boxer foi conquistada ao sultão no dia de Santa
Catarina a 10 de Novembro de 1510 e em breve Goa “dourada” suplantava Calecut
tornando-se o principal porto comercial entre Cambaia e o cabo de Çamorim.
Chagas Pinheiro afirma que a forma de Albuquerque conhecer a necessidade
que tinha a metrópole de um porto de fácil defesa, mas que ao mesmo tempo fosse
abundante em viveres onde, em fim, os portugueses cheios de fadiga pelas
viagens da Europa a Índia pudessem repousar concluiu então que fosse Goa
colocada no meio de Malabar, assente numa circunferência formada pela confluência
de dois rios que nascendo do Gate vão desemborcar no mar.
O rei desta região de nome Adil- Kan e por corrupção Hidalcão,
aproveitando-se da fraqueza do seu governo não tardou em usurpar Goa ao seu
legitimo soberano assumindo o título e as regalias de príncipe independente.
Assim, Afonso de Albuquerque sem declarar o seu verdadeiro projecto saiu
de Cochin com vinte embarcação com perto de 2000 portugueses e alguns
malabares, no dia 28 de Fevereiro de 1510 atacam Goa nas duas fortes fortalezas
(o forte de Pangim e de Bardéis).[20]
Merque Cufergugi, governador de Goa saiu com grande força a fim de
defender os pontos atacados e combater com todas as forças. Mas Afonso de
Albuquerque triunfa facilmente e mal podendo acreditar fez a sua entrada
pública a Goa montado em um magnífico cavalo Persa que fazia acompanhar-se do
estandarte da cruz e da grande bandeira de Portugal.
A sua tropa o seguiu em ordem e a multidão aplaudia o vencedor que se
dirigia ao palácio dando graças a Deus. O vencedor mandou proibir com as mais
severas penas que se maltratassem os habitantes ou lhes tirassem suas fazendas.
Os índios que ficaram foram bem tratados.
Houve nesta acção da parte dos portugueses 40 a 50 homens mortos e dos
inimigos, podemos dizer que foi uma perda muito considerável, tanto dos que
morreram ao ferro português como dos que se precipitavam do alto das muralhas e
dos terraços das casas bem como os que se afogaram no mar[21].
Albuquerque resolvendo fazer de Goa uma cidade portuguesa, repartiu com
os soldados os bens dos vencidos e casou-os com as filhas dos índios;
cumprimentado em fim por embaixadores da maior parte dos soberanos da Índia e
cercado por uma brilhante corte, pareceu então um digno representante de el rei D. Manuel.
Mas, em 1512 circulava uma notícia de que uma frota do califa viria
recuperar Goa. Nisto, a 10 de Setembro de 1512, com 16 navios e, contando com
3000 portugueses de belíssima tropa e os auxiliares índios, preparava-se para a
guerra.
Os inimigos defendiam-se com valor, mas tendo as suas baterias baixas
Hidalkhan arvorou a bandeira branca. Os artigos de capitulação foram assinados
contra a vontade dos oficiais que queriam tomar a praça por assalto.
As condições foram: que o inimigo sairia com os seus bens e suas pessoas
salvas deixando ao vencedor a artilharia, as munições de guerra, cavalos e os
navios que tinha na ilha. Quando o exército mandado pelo Hidalkhan chegou já
era tarde.
Foi durante esta
vitória que Portugal ficou senhor da ilha de Goa.
2.2 – A conquista de Malaca
Esta conquista colocou, antes de tudo, à mão dos portugueses ao maior
centro distribuidor de especiarias no Indostão e simultaneamente uma base naval
que controlava o comercio entre o Indico, o mar de Java e o mar Mediterrâneo
por quanto a rota alternativa através do estreito de Sida era raramente
utilizado.
No dia do apóstolo S. Tiago, em 1511, teve lugar o primeiro ataque contra
Malaca. Quando os portugueses desembarcaram ainda não tinha amanhecido sofrendo
ainda um vivíssimo fogo de artilharia e mosquiteira. D. João de Lima comandava
o corpo que desembarcou a direita da ponte e, Afonso de Albuquerque pós pé em
terra e os dois chefes concertaram o plano de atacar os inimigos pelos flancos
fazendo depois junção na ponte.[22]
Os inimigos estavam a ser comandados por Aladin, o filho do rei Pam, seu
cunhado auxiliado por um numeroso corpo de tropas, onde o príncipe ia montado
num elefante precedido de outros dois e seguido por mais de 500 homens
escoltando-o. Cada elefante levava sobre si uma torre guarnecida de homens
armados.
Com muito esforço, os portugueses avançavam pela cidade derrotando os
inimigos. No ataque ao palácio o rei tinha abandonado, retirando-se durante a
noite para a corte do rei de Pam onde escreveu aos príncipes vizinhos
empenhando-os no restabelecimento do seu poder.
A
cidade abandonada pelos habitantes foi entregue ao saque. Acharam-se tesouros
imensos, armazéns cheios de ricas mercadorias e três mil peças de artilharia
dos quais dois mil eram de bronze. Esta conquista feita por 800 portugueses e
400 malabares auxiliares, não custou mais de 8 homens por serem alvejados por flechas
venenosas.
Os estrangeiros residentes em Malaca não foram incomodados, mas os
naturais foram feito escravos.
Criaram-se leis promulgadas em Malaca, fundadas na equidade e justiça que
foram recebidas pelos habitantes com agrado. Criou-se uma nova moeda e foi
proibida o uso de outras sob pena de morte.
Nada faltava para que o espectáculo fosse grandioso. O governador
Albuquerque em cima de um elefante com o seu castelo guarnecido de seda levando
nas mãos a bandeira de Portugal caminhando pelos principais habitantes da
cidade formados em duas alas, a multidão mal cabia nas ruas, tocavam vários
instrumentos e quando caiam as moedas lançavam-se sobre elas colhendo uma
riqueza para eles desconhecida e em alto clamor saudavam o Grande Afonso de
Albuquerque.[23]
Estas façanhas de Albuquerque foram tornadas possíveis pelas anteriores
distribuições de uma provisória armada egípcio-guzarete ao largo de Diu numa
batalha comandada pelo seu predecessor Francisco de Almeida em Fevereiro de
1509 que vingou assim a derrota e a morte do seu filho nas mãos dos mesmos
inimigos ocorridos no ano anterior em Chaul e que eliminou, deste modo a única
força naval muçulmana capaz de enfrentar os navios de guerra portugueses mais
ou menos em pé de igualdade.[24]
2.3 – As conversões ao cristianismo
O padre António Vieira, o grande missionário jesuíta português, na sua
história do futuro observou o seguinte: “se não houvesse mercadores que fossem
procurar os tesouros das terras orientais e nas índias, quem transportaria para
lá os pregadores que levam os tesouros celeste? Os pregadores levam o evangelho
e os mercadores levam os pregadores”.[25]
Com isso, podemos dizer, se os homens de Vasco da Gama diziam que tinham
ido a Índia procurar cristãos e especiarias, a procura desta ultima foi
efectuado com muito mais vigor do que com a preocupação da primeira.
Parte do clero secular pioneiro estava mais interessada em servir Manona do que
Deus, como o grupo de clérigos seculares que disseram ao vigário de Malaca que
“a razão principal porque viriam para o
oriente era querer juntar uma fortuna em cruzadas; dizendo que não ficariam
satisfeitas se não conseguissem obter no espaço de três anos cinco mil cruzados
e muitas pérolas e rubis”. A maior parte das conversões conseguidas por
este clérigo secular eram ou de mulheres asiáticas, que viviam maritalmente com
portugueses, ou escravos domésticos ou de pobres e paríos esfomeados que se
tornaram “cristãos de arroz”.
Claro que havia excepções, e a conversão em massa de pecadores por muito
superficial que tenha sido de início, em 1537 obteve resultados posteriormente
duradoiros.
Mas foi a Companhia de Jesus que no seu papel de ponto de Layola, igreja
militarista, que tornou a luta pelas almas tão intensivas e alargadas como a
competência pelas especiarias. Os filhos de Layola estabeleceram e mantiveram
padrões muito mais elevados do que os seus predecessores e o notável
desenvolvimento das missões portuguesas ocorridas entre 1550 e 1750 o que foi
sobretudo obra sua para frequentemente provocar homenagem entusiástica dos
protestantes, dos hostis e tudo mais.
Através de uma mistura de métodos de persuação e de força em que
predominou mais força e muitos foram convertidos ao cristianismo sobretudo nas
regiões da costa ocidental da Índia.
Começando com a destruição massiva dos templos índios de Goa em 1540, as
autoridades portuguesas, instigadas pelos eclesiásticos locais e pelos os da
coroa promulgaram um grande número de leis severas e opressivas com o objectivo
de proibirem a prática pública da religião hindu, budista e islâmica em
territórios controlado pelos portugueses.
As linhas mestras da política missionária foram determinadas por
sucessivos concílios eclesiásticos que tiveram lugar periodicamente em Goa a
partir de 1567. O primeiro concilio foi no mesmo ano pois a igreja pós Concilio
de Trento estava no vigor inicial de suas forças e mesmo foram reafirmados
apenas com ligeiras modificações nos concílios posteriores.
As suas deliberações foram ditadas por três considerações fundamentais e
a última da qual se provou na prática ser difícil.
1º Todas as religiões que não a professassem a fé católica romana
ortodoxia definidas pelo Concílio de Trento era implicitamente errada e nociva
em si própria.
2º A coroa portuguesa tinha o inculcável direito de espalhar a fé
católica romana e o poder secular de estado e podia ser utilizado para sustentar
o poder espiritual da igreja.
3º A conversão não podia ser feito pela forca nem por ameaça de forca “porque
ninguém chega ate Cristo pela fé a não ser que seja conduzido pelo pai celeste
com amor voluntário e graças previamente”[26].
Com isto um decreto a 4 de Dezembro de 1567 ordenava o Inter alin, que todos os templos pagãos existentes em territórios
controlados pelos portugueses deviam ser demolidos e que o nome de Maomet não
devia ser invocado nas mesquitas na chamada oração dos muçulmanos. Os hindus e
budistas estavam proibidos de visitarem os seus templos. A celebração de
casamento público e de procissão religiosos não cristão foi estreitamente
proibida.
Todas as crianças órfãos hindus deviam ser afastadas se for preciso a
força dos parentes e viriam a ser entregues a tutores ou pais adoptivos
cristãos e preparados por padres católicos para receberem o baptismo.
Os não cristãos deviam ser descriminados oficialmente e legalmente, e não
concorriam para os cargos públicos e lugares bem remunerados que não estivessem
reservados. Esta intolerância religiosa provocou a expedição do Grão-Mongol
Akbar que destruiu todos os estabelecimentos dos portugueses do Malabar.[27]
Mais apesar disso deve-se dizer que a influência cristão na Ásia nos anos
de 1500 não se limitava aos indivíduos que aceitavam a conversão, houve
missionários jesuítas residentes nas cortes dos Grão-Mongóis se bem que, as
suas esperanças de converte-los tinham sido fracassadas.
2.4 – As especiarias na Índia portuguesa
É imprescindível que a ideia que prevaleceu na acção colonial dos
portugueses foi mais elevada que a simples cede do lucro na posse do monopólio
das índias. Sem duvida o objectivo do rei de Portugal era obter, graças ao
monopólio colonial e comercial, os recursos necessários a política hegemónica
que praticava-se na Europa.
Os planos portugueses para estabelecerem um monopólio efectivo no
comércio das especiarias foram contrariados por outros factores como a falta de
navios e homens.
A produção da especiaria na Ásia e a procura na Europa duplicava
aproximadamente durante a segunda metade do século XVII. As quantidades globais
dos carregamentos trazidos pelos portugueses através da rota do Cabo foram
avaliados num total anual de quarenta mil a cinquenta quintaes, no primeiro
trimestre do século XVII destacou sessenta mil a setenta quintaes.[28]
A percentagem da pimenta nestes carregamentos oscilavam entre 10 a 45.000 quintaes, mais
durante muito tempo cifrou-se entre 20 a 30 000 quintaes. As outras especiarias
como a canela, cravo-da-índia, macis, noz-moscada, gengibre cifrava-se em 5 a 10 000 quintaes nos
carregamentos anuais.
Com a chegada dos ingleses e holandeses no advento do século XVII, a
posição de Portugal deteriorou-se, mas ainda em 1611 se declarava em Lisboa que
a pimenta era a mercadoria fundamental do comércio português com a Índia e que
era única a dar um lucro satisfatório a coroa. Durante a maior parte do século
XVI os comerciantes de Malabar recusara-se aceitar o pagamento da pimenta em
tudo que não seja ouro, apesar disso, os portugueses nunca tiveram de enviar
tanta moeda em
Lisboa. Infelizmente os registos das casas de moeda de Goa e
de Coxim perderam-se, e os números que indicam as somas de dinheiro enviados
anualmente de Lisboa para a Índia estão longe de ser completos.
Originalmente a venda da pimenta em Lisboa estava aberta a todos os
indivíduos, mas a partir de 1503 todos os produtos importados passaram a ser
vendidos pela casa das índias.
Calecut era então a cidade mais opulento da Índia a ponto geral de reunir
todas as riquezas e preciosidades do oriente. Com uma mercadoria de se invejar
viam-se gerir no comércio os diamantes e as pedras preciosas das ricas minas do
Indostão, as pérolas, o ouro, a prata, o âmbar, o marfim, a porcelana, os
estofos de seda, os de linha estampadas, o algodão, o anil, o açúcar, as
especiarias de toda sorte como a madeira preciosa e não só, que eram muito
importante na Europa para a construção de casas e embarcações uma vez que
estavam escassas e, sem esquecer os aromas e geralmente tudo que podia
contribuir para uso e para as delicias da vida.[29]
Portanto, a Índia era um paraíso a se descobrir e a ocupar para se ter o
monopólio comercial de todas estas especiarias que aumentavam as receitas dos
monarcas e o seu reconhecimento pelo mundo.
2.5 – Declínio do Império português na Índia
Com o passar do tempo o mesmo tinha que fatalmente entrar em crise. Pois o espaço
era demasiado delatado e complexo para os recursos que dispunham a Metrópole.
Do ponto de vista militar não tinha gente para manter este controlo, e
economicamente carecia de um sistema que se adaptassem as novas realidades.
Pois os portugueses viam surgir neste comércio estados mais fortificados
militarmente do que eles como os ingleses, os holandeses e mais tarde os
franceses que criavam companhias para as índias; isto em 1600 para os ingleses
e 1602 para os holandeses (índias orientais), isto para deter o comercio do
monopólio na Índia.
Assim ingleses e holandeses apoiavam-se mutuamente empreendendo uma luta
contra os portugueses.
Este uso do monopólio para Portugal, trouxe prejuízo a coroa. A Europa
avançara muito e estava-se em plena Idade
Moderna. O Renascimento alargara os seus horizontes. A
reforma cindira a cristandade e diminuiria os poderes autoritários da
autoridade do papa. E assim Portugal não conseguira seguir estas evoluções
ficando sempre estagnado no tempo, facilitando outras potências terem o domínio
do monopólio comercial na Índia.
Conclusão
Nesta investigação constatamos que para concretizar os seus objectivos
que era ter o monopólio comercial da região oriental, Portugal esbarra-se em
algumas regiões sob o domínio muçulmano do então império Grão-Mongol.
A actual península do Indostão constituiu o todo deste império, onde,
depois da descoberta de Portugal seis grandes cidades deste império se
destacavam: o mesmo foi governado por imperadores onde se destacou Akbar que,
pelas suas conquistas e extensão do império mereceu grande respeito temeroso
por parte dos europeus, principalmente dos portugueses, que lhe chamaram o
Grão-Mongol.
O mesmo império foi um viveiro de religiões onde se destacam o bramanismo,
o hinduísmo, o budismo, o islamismo e o cristianismo.
Com a chegada dos portugueses em 1500 as coisas modificaram-se para estes
habitantes. Portugal com objectivos económicos, políticos e religiosos muda o
curso da história deste império.
Sob o comando de Afonso de Albuquerque conquistam regiões
importantíssimas no comércio das especiarias como Calecut, Goa, Malaca e Ormuz.
Os ataques portugueses acabaram por se malograr nas primeiras tentativas
e foi graças a tenacidade de Afonso de Albuquerque em tentar outra vez que
tiveram eventualmente êxito.
Apesar do contributo de Afonso de Albuquerque para a conquista de
territórios na Índia, deve-se também lembrar as ajudas prestadas pelos bravos
soldados e pelo el rei D. Manuel de
Portugal.
Referências bibliográficas
ALBUQUERQUE, Luís; MARIA, Ana e ALÇADA, Isabel. Os Descobrimentos Portugueses: viagens e aventuras, Editora
Caminhos, Lisboa, 1991.
BOXER, C. R., Império Colonial
Português (1415-1825), Edições 70, Lisboa, 1969.
CHAGAS, Pinheiro. Os Portugueses na
África, Ásia, América e Oceânia, Tomo II, 1890.
CHAGAS, Pinheiro. Os Portugueses na
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PIRENNE, Jacques. As Grandes
Correntes da História Universal, vol. II, 2ª edição, S.I.C. Luso
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ROBERTS, J. M., Breve História do
Mundo: dos Islão a expansão marítima, Editora Presença, Lisboa, 1996.
RODRIGUES, Adriano Vasco. História
Geral das Civilizações Modernas e Contemporâneas, vol. II, Porto Editora,
(s/d).
SOUSA, Osvaldo Rodrigues. História Geral:
da Pré-História aos Últimos Factos do nosso Tempo, Editora ática, 19ª
edição, São Paulo, 1980
[1] Chagas Pinheiro, Os
portugueses na África, Ásia, América e Oceânia, vol. II, Livraria de António
Pereira, liboa, 1890, p. 80
[2] Roberts. J. M., Breve
História do Mundo, vol. II, Editora Presença, Lisboa, 1996, p. 171
[3] Idem
[4] Ibdem, p.172
[5] Ibdem
[6] Antigos filósofos da
Etiópia, os quais andavam quase nus e levavam uma vida muito austera e
contemplando a natureza.
[7] Pinheiro Chagas, op cit,
p. 80
[8] Ibdem, p. 84
[9] Roberts, J. M., op cit, p. 141
[10] Ibdem, p. 175
[11] Pirene, J. op cit, p. 291
[12] Ibdem, 292
[13] Ibdem, 294
[14] Idem
[15] Ibdem, p. 295
[16] Idem, p. 296
[17] Boxer, op cit, p. 59
[18] Ibdem, p. 60
[19] cf. Pinheiro, Chagas,
idem, p. 95
[20] Pinheiro, Chagas, tomo
III, p. 24
[21] Ibdem, p. 37
[22] Idem, p. 44
[23] cf Pinheir, C., IIº , P.
52
[24] cf Boxer, op cit, p. 61
[25] Ibdem, p. 81
[26] Ibdem p.85
[27] cf Pirene, J. IIIº , p.
298
[28] cf. Boxer, idem, p. 75
[29] cf. Chagas, IIº , p. 85
POR DOMINGOS SEGREDO MANUEL, LICENCIANDO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO - HISTÓRIA
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