segunda-feira, 6 de agosto de 2012

ÁFRICA NEGRA: Nação civilizada e berço da Humanidade Parte III


ÁFRICA NEGRA
Nação civilizada e berço da Humanidade
Parte III
Por que é a raça uma questão tão grande?
Por: Domingos Segredo٭

BEM desde o começo da história registrada, o conceito de “eles” e “nós” tem dominado o modo de pensar das pessoas. Muitos convenceram a si mesmos de que são as únicas pessoas normais que em tudo têm as maneiras corretas de fazer as coisas. Isto é o que os cientistas chamam de etnocentrismo, o conceito de que o nosso próprio povo e maneiras sejam os únicos que contam.
Os antigos gregos, por exemplo, não tinham um conceito favorável sobre os “bárbaros”, um termo que aplicavam a quem quer que não fosse grego. A palavra “bárbaro” se originou de como as línguas estrangeiras soavam aos ouvidos gregos, com muitos ininteligíveis “bar-bar”. Os egípcios antes deles e depois os romanos também se sentiam superiores a outros povos.
Por séculos os chineses chamavam seu país de Zhong Guo, ou o Reino do Meio, porque estavam convencidos de que a China era o centro do mundo, se não do Universo. Mais tarde, quando missionários europeus de cabelo ruivo, olhos verdes e pele corada chegaram à China, os chineses os tacharam de “diabos estrangeiros”. Similarmente, quando os orientais pela primeira vez chegaram à Europa e à América do Norte, seus olhos oblíquos e o que eram considerados costumes estranhos fizeram deles alvos fáceis de zombaria e suspeita.
Todavia, há um fato significativo a considerar, como diz o livro The Kinds of Mankind: “Crer na sua superioridade [racial] é uma coisa; tentar provar isto, usando as descobertas da ciência, é algo diferente.” Empenhos de provar que certa raça é superior a outra são relativamente novos. O antropólogo Ashley Montagu escreveu que “o conceito de que existem raças da humanidade naturais ou biológicas que diferem umas das outras mental e fisicamente é um conceito que não havia se desenvolvido até a parte final do século dezoito.”
Por que a questão da superioridade racial se tornou tão preeminente nos séculos 18 e 19?
Comércio de escravos e raça
Uma das principais razões é que o lucrativo comércio de escravos havia atingido o seu ápice, e centenas de milhares de africanos estavam sendo levados à força e pressionados à escravidão na Europa e nas Américas. Não raro as famílias eram dissolvidas, com homens, mulheres e crianças sendo enviados a diferentes partes do mundo, jamais se tornando a ver. Como podiam os mercadores e os donos de escravos, a maioria dos quais afirmava ser cristãos, defender tais atos desumanos?
Por propagarem o conceito de que os negros africanos eram por natureza inferiores. “Estou inclinado a suspeitar que todos os negros, e em geral todas as outras espécies de homens, sejam por natureza inferiores aos brancos”, escreveu o filósofo escocês do século 18, David Hume. De fato, Hume asseverava que não se podia encontrar nenhum “produto engenhoso entre os [negros], nenhuma arte, nenhuma ciência”.
Contudo, tais assertivas eram erradas. The World Book Encyclopedia (1973) observou: “Reinos de negros, altamente desenvolvidos, existiam em várias partes da África centenas de anos atrás. . . . Entre 1200 e 1600, uma universidade negro-árabe floresceu em Timbuktu, na África Ocidental e tornou-se famosa por toda a Espanha, África do Norte e Oriente Médio.” Não obstante, os envolvidos no comércio de escravos foram rápidos em adotar o conceito de filósofos, tais como Hume, de que os negros eram uma raça inferior aos brancos, deveras, até mesmo subumanos.
Religião e raça
Os mercadores de escravos obtiveram de líderes religiosos considerável apoio aos seus conceitos racistas. Já na década de 1450, os editos de papas católico-romanos sancionavam a subjugação e a escravização de “pagãos” e “infiéis” para que as suas “almas” pudessem ser salvas para o “Reino de Deus”. Tendo recebido a bênção da igreja, os primitivos exploradores europeus e mercadores de escravos não tinham escrúpulos quanto ao tratamento brutal de povos nativos.
“Na década de 1760, bem como em muitas décadas depois, a escravidão negra era sancionada por clérigos e teólogos católicos, anglicanos, luteranos, presbiterianos e reformados”, diz o livro Slavery and Human Progress (Escravidão e Progresso Humano). “Nenhuma igreja ou seita moderna procurou desencorajar seus membros de possuírem ou até mesmo de traficarem escravos negros.”
Embora algumas das igrejas falassem a respeito de fraternidade cristã universal, elas também promoviam ensinos que intensificavam a controvérsia racial. Por exemplo, a Encyclopaedia Judaica diz que “foi apenas depois de prolongadas lutas e discussões teológicas que os espanhóis reconheceram que as raças nativas que encontraram na América eram homens dotados de almas”.
A implicação era que contanto que as “almas” das pessoas dessas raças nativas fossem “salvas” por serem convertidas ao cristianismo, não era importante como eram tratadas fisicamente. E, no caso dos negros, muitos líderes religiosos argumentavam que eles de qualquer maneira eram amaldiçoados por Deus. As Escrituras eram mal aplicadas para tentar provar isto. Os clérigos Robert Jamieson, A. R. Fausset e David Brown, em seu comentário bíblico, afirmam: “Maldito seja Canaã [Gênesis 9:25] — essa condenação foi cumprida na destruição dos cananeus — na degradação do Egito, e na escravidão dos africanos, os descendentes de Cã.” — Commentary, Critical and Explanatory, on the Whole Bible.
O ensino de que o antepassado da raça negra foi amaldiçoado simplesmente não consta na Bíblia. A verdade é que a raça negra descende de Cus, não de Canaã. No século 18, John Woolman argumentou que usar essa maldição bíblica para justificar a escravização dos negros, privá-los de seus direitos naturais, “é uma suposição grosseira demais para ser aceita na mente de qualquer pessoa que sinceramente deseje ser governada por princípios sólidos”.
Pseudociência e raça
A pseudociência também acrescentou a sua voz num esforço de apoiar a teoria de que os negros são uma raça inferior. O livro Ensaio Sobre a Inigualdade das Raças, do escritor francês do século 19, José de Gobineau, lançou o fundamento para muitas obras que se seguiram. Nela, Gobineau dividiu a humanidade em três raças distintas separadas em ordem descendente de excelência: branca, amarela e negra. Ele afirmou que as qualidades ímpares de cada raça estavam encerradas no sangue, de modo que qualquer mistura através do casamento resultaria em degradação e perda das qualidades superiores.
Gobineau argumentou que existia outrora uma raça pura de pessoas brancas, altas, de cabelos loiros e olhos azuis, chamadas de arianos. Foram os arianos, argumentou ele, que introduziram a civilização e o sânscrito na Índia, e foram os arianos que estabeleceram as civilizações da Grécia e da Roma antigas. Mas, através do casamento inter-racial com as pessoas locais inferiores, essas outrora gloriosas civilizações se perderam, junto com a genialidade e as qualidades excelentes da raça ariana. As pessoas mais próximas do arianismo puro que ainda restavam, afirmava Gobineau, encontravam-se no norte da Europa, a saber, entre os nórdicos, e, por extensão, entre os povos germânicos.
Os conceitos básicos de Gobineau — a divisão em três raças, a linhagem do sangue, a raça ariana, — não tinham qualquer base científica, e são completamente desacreditados pela comunidade científica moderna. Não obstante, foram prontamente adotados por outros. Entre estes havia um inglês, Houston Stewart Chamberlain, que ficou tão apaixonado pelos conceitos de Gobineau que fixou residência na Alemanha e promoveu a causa de que apenas através dos alemães havia esperança de preservar a pureza da raça ariana. Obviamente, os escritos de Chamberlain passaram a ser amplamente lidos na Alemanha, e o resultado foi vil.
O vil resultado do racismo
Em seu livro Mein Kampf (Minha Luta), Adolf Hitler afirmava que a raça alemã era a super-raça ariana que estava destinada a dominar o mundo. Hitler achava que os judeus, que segundo ele eram responsáveis de sabotar a economia alemã, eram um obstáculo a este glorioso destino. Seguiu-se assim o extermínio de judeus e de outras minorias na Europa, que foi indiscutivelmente um dos mais negros capítulos da história humana. Este foi o desastroso resultado dos conceitos racistas, incluindo os de Gobineau e de Chamberlain.
Mas tal vileza não se limitou à Europa. No outro lado do oceano, no chamado novo mundo, o mesmo tipo de conceitos infundados trouxe indizível sofrimento a gerações de pessoas inocentes. Embora os escravos africanos fossem finalmente libertados nos Estados Unidos depois da Guerra Civil, em muitos estados promulgaram-se leis que proibiam os negros de terem muitos dos privilégios que outros cidadãos tinham. Por quê? Os cidadãos brancos achavam que a raça negra não tinha a capacidade intelectual de participar em deveres cívicos e no governo.
Exatamente o quanto tais sentimentos raciais estavam entrincheirados pode-se ilustrar por um caso envolvendo uma lei de antimiscigenação. Esta lei proibia casamentos entre negros e brancos. Ao condenar um casal que violou essa lei, certo juiz disse: “O Deus Todo-Poderoso criou as raças branca, negra, amarela, malaia e vermelha, e Ele as colocou em continentes separados, e, se não houvesse interferência no Seu arranjo, não haveria motivo para tais casamentos.”
O juiz disse isto, não no século 19, e tampouco numa área primitiva e remota, mas em 1958 — e não a mais de 100 quilômetros do Capitólio dos EUA! De fato, foi só em 1967 que a Suprema Corte dos EUA invalidou todas as leis contra os casamentos inter-raciais.
Tais leis discriminatórias — bem como a segregação em escolas, igrejas, e outras instituições públicas, e a discriminação no emprego e na moradia — levaram aos distúrbios civis, aos protestos e à violência que se tornaram as realidades da vida nos Estados Unidos e em muitos outros lugares. À parte da destruição de vidas e de propriedades, a angústia, o ódio e as indignidades e os sofrimentos pessoais resultantes podem ser apenas considerados como a vergonha e a desonra de uma chamada sociedade civilizada.
Assim, o racismo tornou-se uma das mais divisórias forças que afligem a sociedade humana. Certamente, cabe a todos nós esquadrinhar o nosso coração, perguntando-nos: rejeito eu quaisquer ensinos que proclamem uma raça como superior à outra? Tenho procurado livrar-me de quaisquer possíveis resquícios de sentimentos de superioridade racial?
É também apropriado perguntar: Que esperança existe de que o preconceito e a tensão raciais, tão em voga hoje em dia, possam algum dia ser erradicados? Podem pessoas de diferentes nacionalidades, idiomas e costumes viver juntas em paz?


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