INTRODUÇÃO
A cessação do conflito bipolar, na última
década do século XX, resultou numa reestruturação da ordem mundial. Novas
alianças começaram a se constituir, as antigas quebraram ou mudaram do seu
carácter. Com o fim da rivalidade entre dois blocos, que até então atraira a
maior parte da atenção, os pensadores de diversos campos de estudo deram as
suas contribuições para a reflexão teórica da nova situação internacional. Um
deles, Samuel Huntington, historiador e cientista político americano, no seu
artigo que mais tarde passou a um livro chamado Choque das Civilizações,
gerou muita controvérsia com a sua tese do futuro conflito internacional
baseado nas diferenças entre as “Civilizações”, ou seja, entre os conjuntos de
sociedades da mesma raiz cultural, étnica, linguística e/ou religiosa.
Huntington definiu vários círculos civilizacionais, entre eles os ocidental,
africano e latino-americano.
Seja qual for a fundamentação da hipótese
de Huntington, a ideia da existência dos agrupamentos de países baseados nas
características culturais comuns não é nada de novo. Uma das teorias que têm
este fundamento é a teoria do lusotropicalismo formulada pelo sociólogo
brasileiro de renome internacional Gilberto Freyre durante a primeira metade do
século XX.
O Lusotropicalismo supõe a existência
duma civilização original que se ergueu sobre as alicerces que advieram da
expansão portuguesa por zonas tropicais do mundo e do modo particular dos
portugueses de se relacionar com as populações indígenas. Foi através desta
interacção, que compreende a mútua influência em várias dimensões da vida
cotidiana, nomeadamente estilo de se vestir, culinária, comportamento social,
ritos religiosos e, não menos, expressão idiomática de, de dois ou, no caso do
Brasil, de três elementos, que se criaram sociedades híbridas na sua composição
etnocultural.
No entanto, a teoria foi aproveitada pelo
regime autoritário português do “Estado Novo” para defender o seu Império
Colonial, sobretudo contra as pressões externas. Ora, quando a ditadura fora
derrubada, o luso-tropicalismo caiu no desagrado. Não obstante o esforço
contínuo de alguns dos intelectuais de manter viva a ideia da solidariedade
entre os povos de língua portuguesa, sobretudo em Portugal mas também no
Brasil, nos anos que se seguiram após a descolonização portuguesa, nos meados
da década de 70, em consequência da complicada situação interna tanto nos
países recém-independentes como em Portugal, os destinos dos Estados lusófonos
separaram-se. Foi só nos anos 90 quando se realizou a iniciativa luso-brasileira
dum projecto de criação da organização intergovernamental, que passou a se
chamar “Comunidade dos Países de Língua Portuguesa”, com o objectivo de
inaugurar um novo período nas relações entre os Estados da língua oficial
portuguesa. Na ocasião, o legado de Gilberto Freyre, entretanto falecido, e o
seu possível papel na legitimização desta Comunidade, foram evocados.[1]
Na execução deste trabalho fomos levados
a fazer as seguintes questões: Que características apresentava a teoria do
lusotropicalismo? Qual era o objectivo principal da teoria do luso-tropicalismo
em relação as suas colónias? Era dar ao indígena elementos da cultura europeia,
fazer deste mesmo indígena um homem culto capaz de estar em pé de igualdade com
os europeus, ou mitificar a coabitação social deste através de teorias?
Todavia, para a execução deste trabalho
tivemos que dividi-lo em quatro capítulo.
No primeiro capítulo fizemos uma análise,
em ternos gerais, do carácter nacional português em relação as antigas colónias
perante
as novas concepções liberalizantes dos autonomismos nacionalistas de África e
Ásia. Visto que depois do fim da
Segunda Guerra Mundial, não havia mais clima político no mundo para a
preservação de impérios coloniais. A guerra marcou a derrota do Japão, da
Alemanha e da Itália, países que tinham um projecto declaradamente
colonialista. A própria criação da Organização das Nações Unidas, a ONU, em
Junho de 1945, tinha formalmente, como premissa, assegurar a igualdade entre
todos os países do mundo. Nesse quadro, os impérios coloniais ainda existentes
eram uma anomalia, o resquício de um ciclo histórico já ultrapassado.
É assim que o Estado
salazarista procurava a essência de si nas práticas ditas civilizadoras da
velha conquista colonial, não mais buscando novas colónias, mas colonizar
efectivamente aquelas que já lhe pertenciam há séculos. E o pragmatismo se vai
verificar através do lusotropicalismo do sociólogo brasileiro Gilberto Freyre.
No segundo capítulo fizemos uma abordagem
da teorização e ideologia do lusotropicalismo como carácter particular da
colonização portuguesa, sobretudo no que diz respeito à atitude dos portugueses
para com as populações indígenas.
Já no terceiro capítulo, de forma tão
sinóptica, e por o capítulo mais curto, tomamos a iniciativa de abordar a
questão do lusotropicalismo através de uma face diferente do prisma: o
anti-lusotropicalismo africano. Abordamos este capítulo aproveitando-nos de
Mário Pinto de Andrade e Amílcar Cabral.
Por fim, no quinto capítulo, focamos
nossa atenção nos projectos políticos, mais ou menos bem sucedidos, de
transformação do Império Colonial Português e a consequente criação da Comunidade
dos Países da Língua Portuguesa.
Ora, esse
trabalho mostra-nos um certo interesse na medida em que, fica bem patente as
formas de como os portugueses puderam manter as colónias sob sua possessão,
mesmo no período em que depois da segunda guerra grande guerra, em que se vivia
um clima de tensões declínio dos países imperialistas e totalitários,
principalmente.
O
principal objectivo deste trabalho é analisar as capacidades do
luso-tropicalismo como fundamento da ideológico colonial portuguesa.
As metodologias e técnicas utilizadas
para a elaboração deste trabalho foram as técnicas de pesquisa bibliografia, e
ainda utilização do método histórico. Utilizamos, também, o método comparativo
devido as análises de autores que teceram diferentes abordagem acerca do
assunto em estudo.
Retornando ao luso-tropicalismo como
nosso campo de análise, gostaríamos de afirmar que no trabalho que aqui
apresentamos não pretendemos abordar toda história da ideologia
lusotropicalista do Estado Novo, importa apenas salientar alguns aspectos desta
teoria na medida em que esta referência nos poderá ajudar a compreender a visão
do colonialismo sobre colonizado.
CAPÍTULO
I: O LUSOTROPICALISMO E O CARÁTER NACIONAL PORTUGUÊS
Com o fim
da Segunda Guerra Mundial o regime salazarista do Estado fascista português
obrigou-se a uma nova definição estatutária para a caracterização de suas
colónias espalhadas pela África e pela Ásia. António de Oliveira Salazar sabia
que, se não tomasse providências urgentes naquele momento de redefinição do
desenho geopolítico internacional, os espaços coloniais portugueses poderiam
sucumbir perante as novas concepções liberalizantes dos autonomismos
nacionalistas (África e Ásia, principalmente) que, formuladas na década de
1940, se consumariam como práticas políticas efectivas pela década de 1950,
estendendo-se até meados da década de 1970, transformado em um componente central
da ideologia colonial do Estado Novo português.
Salazar,
no poder desde 1926, sugeriu novas práticas de Estado para tentar assim
recaracterizar o velho Império português. O Império das glórias camonianas dos
séculos XVI e XVII era permanentemente reabilitado pelo fascismo salazarista em
pleno século XX. O Estado salazarista procurava a essência de si nas práticas
ditas civilizadoras da velha conquista colonial. Não buscava novas colónias,
mas colonizar efectivamente aquelas que já lhe pertenciam há séculos. A marca
emblemática de tais práticas aparece em 1930, através de um documento que se
demarcaria como a carta constitucional do colonialismo português contemporâneo,
trata-se do Acto Colonial.
Nesse
documento sumariavam-se os conceitos e os movimentos institucionais do Estado
português centrados em premissas fortemente centralizadoras no que se refere à
administração das colónias. Através de práticas de concessão (no jogo
diplomático, sujeitando-se a interesses geopolíticos da Inglaterra e dos EUA),
o governo de Salazar conseguiu manter ao longo da Segunda Grande Guerra as
fronteiras do Império intactas. E, diante dos novos tempos que o pós-guerra
estava a impor ao mundo, Salazar, estava novamente sob a contingência de novas
concessões. Propôs mudanças na administração colonial e o fazia para que tudo ficasse
como estava.
Evidente
que tais práticas conjunturais de manutenção estrutural do Império não seriam
obra somente da vontade de Salazar. Para justificar “o mundo que o português
criou”, teve inúmeros parceiros intelectuais, o apoio dos seus “cães de guarda”
(para usar a expressão de Paul Nizan). Os “cães de guarda” do Império
referem-se a importantes intelectuais que o assessoraram directamente na
condução dos negócios do Estado, ora como ministros ora como Chefes de Centros
de Pesquisa ou ainda como representantes diplomáticos junto à ONU.
Faz-se
referência apenas a alguns nomes, como o de Armindo Monteiro (que foi Ministro
do Ultramar), o de Adriano Moreira (membro da Junta de Investigações do
Ultramar [JIU] e criador do Centro de Estudos Políticos e Sociais [CEPS],
pertencente à JIU e também Ministro do Ultramar), o de Sarmento Rodrigues
(membro da Marinha [Comodoro] portuguesa e também Ministro dos Negócios
Estrangeiros) e ainda, Franco Nogueira (diplomata, chefe da delegação
portuguesa na ONU, em meados da década de 1950 e ministro do Ultramar). Sobre
Armindo Monteiro e Franco Nogueira farei apenas alguns comentários de passagem.
Adriano
Moreira e Sarmento Rodrigues terão aqui maior destaque por serem os
responsáveis directos pela presença institucional do Lusotropicalismo de
Gilberto Freyre junto às práticas reformistas de Salazar no pós-guerra.
Os
intelectuais acima referidos tiveram um papel determinante na confecção do
ideário político-institucional que se disseminou por todas as áreas no mundo de
influência lusitana, principalmente nas décadas de 1950 e 1960, ou seja, junto
ao regime salazarista responsabilizavam-se pela busca do sentido e significado
de Portugal no mundo, num momento de crescentes tensões internacionais onde se
impunha, na concorrência pelo domínio dos mercados mundiais, a geopolítica
bipolar dos EUA e da URSS.
Salazar e
seus ideólogos procuraram nesse contexto, uma alternativa que não
transfigurasse a historicidade de Portugal no mundo e que não se subordinasse
ao domínio de um dos pólos hegemónicos, a maior herança dessa historicidade – o
Império Ultramarino. Salazar lutou contra a bipolaridade, não se dispôs a ficar
ao lado dos EUA, foi um parceiro esquivo, arredio da política internacional dos
EUA. Mas foi também, francamente anticomunista com a URSS.
Salazar e
seus ideólogos apresentavam-se ao mundo, como antiliberais e anticomunistas,
aspecto que demarcava o cariz essencialmente fascista do regime.
Em 1951,
o Acto Colonial de 1930 deixou de ser a marca constitucional directiva das
práticas institucionais do Estado português junto às colónias ultramarinas. Com
isso, as colónias que eram definidas como tais passariam naquele momento
a ser definidas como províncias ultramarinas. Mudava-se a terminologia,
mas as práticas e as realidades permaneciam intocadas. Esse é o significado do
fim do Acto Colonial. Mesmo não alterando substantivamente em nada a realidade
do domínio imperial, ainda assim, o fim do Acto Colonial, não foi apoiado de
modo unânime.
Na
ocasião, Armindo Monteiro, um dos mais expressivos políticos portugueses do
século XX, além de ser um dos articuladores do Acto Colonial, manifestou
intransigente posição contrária à revogação daquele documento.
Junto com
a reforma constitucional que transformou retoricamente o estatuto
administrativo das colónias do ultramar, o governo de Salazar mobilizou
gigantesco esforço de propaganda para justificar internacionalmente um país,
uma nação de extensos territórios, extensas províncias que do Minho ao Timor
faziam de Portugal um só território. É neste momento crucial que a obra e o
pensamento de Gilberto Freyre tornaram-se instrumentos da máquina de propaganda
salazarista. E isso não aconteceria à revelia de Freyre, muito ao contrário,
acabou por aceitar de bom grado o papel de ideólogo salazarista e em alguns
momentos foi percebido como um dos mais eficientes cães de guarda do
Império.
Em termos
gerais, a conjuntura internacional do pós-guerra impunha ao Estado português o
esforço gigantesco de cristalizar, em várias frentes, o sentido do seu Império
no mundo. Primeiro, buscava-se na ONU o consenso de um Portugal com colónias,
mas que não se percebia mais como colonialista – daí as alterações
constitucionais. Em segundo lugar, o consenso sobre o sentido dessa realidade
histórica, isto é, buscava-se uma arquitectura teórica que justificasse a
tradição do colonialismo lusitano ao longo do tempo, como uma estrutura
histórica diferenciada daquela ocorrida em outros países colonialistas. E, em
terceiro lugar, a necessidade do convencimento social, frente à própria nação,
de que tal engenharia administrativa era de fato uma realidade operacional e
conseguir justificar assim ao mais simples lavrador português que as terras
fecundas e ainda inexploradas da África eram também as terras do seu querido
Portugal.
Tal
chamamento, derivado desse consenso, teve resultados significativos porque na
década de 1950 constatou-se um deslocamento considerável de portugueses
metropolitanos para as duas principais colónias africanas – Angola e
Moçambique. Em suma, três frentes de luta, três campos de intervenção
ideológica que só poderiam ter-se sistematizado com uma complexa engenharia
institucional organizada a partir do Estado.
Os
principais espaços institucionais de articulação das reformas na esfera estatal
foram o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), O Ministério do Ultramar
(MU), seguido da Junta de Investigações do Ultramar (JIU) e ainda, o Instituto
Superior de Estudos Ultramarinos (ISEU) que era a transfiguração, a partir de
1954, da Escola Superior Colonial, criada em 1927 e originada da primeira
Escola Colonial, fundada em anexo à Sociedade de Geografia em 1906. Os
ministérios como entidades políticas, a JIU e o ISEU como entidades de
pesquisa, juntos cumprindo a mesma função ideológica: justificar a perpetuação
anacrónica das colónias num mundo cada vez mais hostil a práticas imperialistas
e colonialistas.
Entre
outros, passaram pelos ministérios, Sarmento Rodrigues – no início da década de
1950 – e Adriano Moreira – no início da década de 1960. O primeiro marcou sua
gestão pela consolidação da imagem do Império. O segundo lutou em defesa
(física – no combate às guerrilhas africanas pró-independentistas) pela perpetuação
dessa imagem. Foi Sarmento Rodrigues quem convidou Gilberto Freyre para uma
longa viagem de sete meses por todo o Império.
Foi
Adriano Moreira quem organizou, a partir de 1961, a feroz resistência armada
das tropas portuguesas contra os primeiros levantes nacionalistas autonomistas
(caso específico do Norte de Angola, contra a guerrilha do Movimento Popular
pela Libertação de Angola [MPLA], e que também instituiu nessa colónia as
práticas repressivas da polícia secreta do Estado – a Polícia Internacional de
Defesa do Estado, a PIDE).
Foi
Sarmento Rodrigues quem apresentou a obra de Gilberto Freyre a Salazar e quem
convenceu este da importância de Freyre para Portugal.[2]
A Junta
de Investigações do Ultramar foi uma instituição emblemática das preocupações
de Salazar com os novos tempos advindos com o pós-guerra. Surgiu em 1945. Era a
transfiguração da antiga Comissão de Cartografia, criada em 1883. A junta
compunha-se de vários centros de estudo, institutos de pesquisa, responsáveis
pela articulação dos conhecimentos sociológicos e antropológicos e políticos
dos povos e regiões ultramarinas. Promoveu inúmeras actividades de pesquisa,
várias viagens de estudo às colónias, sempre com o sentido de justificar a
singularidade civilizacional do homem português em regiões tropicais. Seu
principal centro de pesquisa foi o Centro de Estudos Políticos e Sociais
(CEPS), criado e dirigido em 1956, por Adriano Moreira[3].
Foi dentro do CEPS que o Lusotropicalismo tornou-se uma factibilidade
científica.
Alguns
anos mais tarde, com as teses do lusotropicalismo já disseminadas, o CEPS de
Adriano Moreira adoptaria também o procedimento das excursões ao Império
(Freyre organizaria o mesmo no Nordeste brasileiro, com as missões de estudos
do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, promovidas nas décadas de
1950 e 1960). Em 1957, o CEPS promoveu “três missões de estudo para a
realização de inquéritos directos nas províncias ultramarinas”. Mas, ao
contrário do que se esperava, nessas missões, os pesquisadores acabaram por
constatar o que lhes parecia impossível: os colonos portugueses eram racistas!
Ainda assim e mesmo com os factos negando o modelo lusotropical de civilização,
os pesquisadores do CEPS apontaram logo a solução: “a solução passa pela
reeducação dos colonos que já vivem no território e pela selecção de futuros
colonos”[4].
Os fatos calavam a mitologia.
1.1 GILBERTO FREYRE: VIDA E OBRA
Não é
possível abordar a questão do luso-tropicalismo sem tratar da vida e da obra de
Gilberto de Mello Freyre, de autor e grande promotor desta teoria. Embora o
conceito do luso-tropicalismo seja a obra-prima do sociólogo brasileiro, a
actuação de Gilberto Freyre no campo científico e também, indirectamente, na
esfera política era muito mais rica. Como autor dum dos “livros que
inventaram o Brasil”,[5]Gilberto
Freyre deixou uma marca profunda não só na sociologia brasileira mas também no
discurso político do seu país e no pensamento dedicado à identidade brasileira
de diversas perspectivas. Durante a sua longa vida,[6]Freyre
pisou vários terrenos. O seu envolvimento na defesa da manutenção da
solidariedade dentro da “comunidade lusófona” era muitas vezes superficialmente
interpretado como uma apologia ao colonialismo português do período
salazarista. Passados 30 anos sobre a descolonização do império português, um
certo “preconceito anti-Gilberto Freyre”[7]subsiste,
no entanto, entre alguns intelectuais em Portugal até aos nossos dias.
As obras
essenciais da teoria do luso-tropicalismo da autoria de Freyre são, além de
outros, sobretudo a famosa Casa-grande & senzala, de 1933, O
mundo que o portuguêscriou, lançado em 1940 como uma publicação baseada nas
conferências proferidas por Gilberto Freyre durante a segunda metade da década
de 30, Aventura e rotina e Um brasileiroem terras portuguesas, os
dois de 1953, e Integração portuguesa nos trópicos e O lusoe o
trópico, editadas por instituições do regime português, com objectivo
sobretudo propagandístico, em 1958 e 1961, respectivamente.
Sem
qualquer dúvida, Casa-grande & senzala é o livro mais popular de
Gilberto Freyre cujo impacto na percepção colectiva da identidade brasileira
foi profundo e, em certo sentido, revolucionário. A valorização do contributo,
até então subestimado ou mesmo rejeitado, das populações indígenas e africanas
e sobretudo dos seus descendentes – dos assim chamados “luso-descendentes” -
para a construção da sociedade brasileira representa a ideia principal da Casa-grande
& senzala. Esta postura persiste ainda hoje em noção geral da sociedade
brasileira como originada por três elementos raciais: branco (europeu), negro
(africano) e “vermelho” (ameríndio)[8],suportada,
por exemplo, pelo intelectual paulistano Sérgio Buarque de Holanda no seu livro
Raízes do Brasil, lançado em 1936, não obstante a discordância entre os
dois pensadores no que diz respeito ao papel dos portugueses no processo da
formação da sociedade brasileira[9].No
campo de metodologia, Freyre aproveitou os conhecimentos que ganhara durante os
seus estudos nos Estados Unidos da América e a experiência obtida na ocasião da
viagem por vários países da Europa e focou na vida cotidiana dos brasileiros na
região nordestina, no núcleo inicial da colonização portuguesa do Brasil.
Encorajado
com o êxito internacional de Casa-grande & senzala, Gilberto Freyre
avançou na formação duma teoria mais complexa. No livro “O mundo que o
português criou”, ele ampliou a sua hipótese sobre o carácter particular da
colonização portuguesa[10]a
todos os casos da presença portuguesa nos territórios alheios. Em Portugal, as
conclusões teóricas que Freyre até então apresentara não ganharam, durante os
30 e 40, muita compreensão. Nessa altura, o discurso dominante nas teorias e
prática coloniais de Portugal não era favorável para a valorização do elemento
indígena[11].
Apesar da
relutância inicial dos intelectuais portugueses em levar a sério as ideias de
Freyre, as mudanças da realidade política interna e internacional, nos anos de
após-guerra, exigiram uma redefinição dos fundamentos ideológicos da política
colonial de Portugal. Com a derrota de alguns dos regimes totalitários na
Segunda Guerra Mundial, as pressões de vários sentidos sobre a ditadura
portuguesa do “Estado Novo” de inspiração fascista fizeram com que as elites
dirigentes de Portugal tentaram acalmar não só as inquietações dentro da
sociedade portuguesa mas também as novas tendências anticolonialistas do novo
sistema internacional através da adopção de algumas reformas políticas mais
propriamente do carácter cosmético e temporal. Não demorou muito para a
hipótese de Freyre sobre a capacidade colonizadora dos portugueses fosse
adoptada como o argumento principal para a manutenção do Império Colonial nos
tempos que testemunharam um nítido crescimento da força moral dos movimentos
independentista na Ásia e, mais tarde, em África.
O governo
português tirou proveito do lusotropicalismo, que se suportava na ideia da
convivência relativamente harmónica dos colonizadores portugueses com os povos
indígenas, e até conseguiu comprometer o próprio Freyre com a defesa da
concepção “de umanação una espalhada por vários continentes”[12].
Gilberto Freyre foi convidado a fazer uma viagem pelas províncias ultramarinas[13]de
Portugal e o sociólogo de reputação internacional aceitou. A série de viagens,
que consistiu de visitas a todas as colónias portuguesas com a excepção do
Timor, deu-se em 1951 e 1952 e desta experiência resultaram os dois livros já
mencionados, Aventura e rotina e Um brasileiro em terras portuguesas.
Foi aqui onde Freyre, pela primeira vez, usou do termo “lusotropicalismo” e,
pouco anos mais tarde, até sugeriu a criação duma nova disciplina científica
que denominou “lusotropicologia”.
A
colaboração de Freyre com o governo autoritário português continuou e o
sociólogo não desistiu de defender a existência da “comunidade lusófona”, mesmo
confrontado com as guerras coloniais que eclodiram no início da década de 1960.
Conforme a sua opinião, os representantes dos movimentos nacionalistas
africanos revoltados deviam rejeitar o envolvimento das “superpotências” – dos
Estados Unidos da América e da União Soviética – no processo da descolonização
portuguesa e orientar-se para os países de língua portuguesa, incluindo o
Brasil, que podem oferecer o quadro internacional mais apropriado para a
emancipação legítima das nações africanas dentro da comunidade lusófona.[14]
A lenha
que Freyre arranjou, com o seu desempenho indirecto na política, para se
queimar como cientista não o queimou enquanto construtor dum projecto político
idealista.[15]A
ideia duma comunidade lusófona baseada nas história, língua e características
culturais comuns, dum conjunto natural dos países espalhados pelos quatro
continentes do mundo que oferece um invejável quadro para o desenvolvimento da
cooperação multidimensional entre as nações de expressão portuguesa. Neste
sentido, o pensamento de Gilberto Freyre ganhou muitos cultores em vários
campos.
CAPÍTULO
II: LUSOTROPICALISMO: TEORIA E IDEOLOGIA
Depois de
termos apresentado a génese da teoria do lusotropicalismo, nesta parte do
trabalho podemos avançar na abordagem das suas ideias essenciais. Como já foi
referido, a obra básica da teoria é Casa-grande & senzala. Aqui
podemos encontrar a fundamentação da tese de Gilberto Freyre sobre o carácter
particular da colonização portuguesa, sobretudo no que diz respeito à atitude
dos portugueses para com as populações indígenas e os escravos importados de
África.[16]
Os pontos
principais da teoria, ou seja, as características específicas dos portugueses,
que Freyre relaciona com o desempenho colonial desta nação, são os seguintes:[17]
·
Mobilidade: Pertence à história geral de Europa o
facto de que eram os portugueses que, dito com Camões, navegaram “por mares
nunca dantes navegados”. Os historiadores aduzem diversas razões que os
portugueses tinhampara se empreenderem na aventura marítima, cuja análise é
contudo irrelevantepara o objectivo deste trabalho. Numerosas viagens dos
portugueses, juntocom a importância dos portos de Portugal como pontos de
encontrodos comerciantes da origem mais diversa, resultaram, como afirma
Freyre, numatolerância excepcional e aptidão de convivência tranquila com as
pessoas oriundasdos outros círculos civilizacionais.
·
Miscibilidade: A pedra angular da teoria, a alegada
capacidade dos portuguesesde se relacionar sexualmente com outras pessoas sem
qualquer preconceito racialfoi, como sublinha Freyre, o instrumento principal
da expansão portuguesano mundo[18].Os
numerosos casos de miscigenação, mesmo em resultadoduma política oficial de
casamentos mistos promovida, de vez em quando, pelosdirigentes da colonização[19],representam
o sinal de reconhecimento da presençaportuguesa nos outros continentes que a
distingue entre as potências coloniais.
·
Aclimatibilidade: As condições físicas de Portugal
continental, sobretudo no sul do país, são bastante parecidas com as do Norte
de África ou de outras regiões na zona tropical, o facto que, segundo Freyre,
representa uma vantagem comparativa dos portugueses contra as outras nações
europeias envolvidas no projecto colonial, sobretudo contra as do Norte de
Europa – nomeadamente os holandeses e ingleses. A capacidade de aguentar os
caprichos do clima nas regiões tropicais faz com que, deste ponto de vista, os
portugueses não tinham maiores problemas para se instalarem nas terras quentes
de forma permanente.
Na
opinião de Gilberto Freyre, estas três características especiais dos
portugueses têm a sua origem na génese étnica e cultural do povo português,
quer dizer, na contribuição dos Mouros e judeus para o perfil etnocultural dos
portugueses[20]–
uma ideia que não ganhou muita simpatia entre as elites políticas portuguesas
durante a primeira metade do século XX.
As conclusões
que Freyre publicou no livro Casa-grande & senzala foram tiradas da
experiência brasileira ou, mais concreto, da situação na região nordestina
deste país. Freyre analisou a vida cotidiana nalgumas das fazendas no Nordeste
e constatou que “no Brasil, as relações entre os brancos e as raças de cor
foram desde a primeira metade do século XVI condicionadas, de um lado, pelo
sistema de produção económica – a monocultura latifundiária; de outro, pela
escassez de mulheres brancas, entre os conquistadores”[21].
O sistema do “patriarcalismo escravocrata e polígamo”[22]fez
com que se formou na América tropical “uma sociedade agrária na estrutura,
escravocrata na técnica de exploração económica, híbrida de índio – e mais
tarde de negro – na composição”[23].
Esta
qualidade híbrida do perfil etnocultural do brasileiro, que na sua essência é o
ponto crucial para o conceito do luso-tropicalismo, foi condicionada por dois
factos, cuja fundamentação já foi apresentada:
1.
A
falta do preconceito racial entre os portugueses no que diz respeito ao
relacionamento sexual com as mulheres de cor e até a preferência pelas mulheres
da origem racial mista;[24]
2.
A
capacidade dos portugueses de se adaptar às condições do ambiente tropical,
incluindo a adopção de alguns dos costumes da gente indígena, quando
preferível.
Como já
mencionámos, Gilberto Freyre não se contentou com a aplicação da sua visão
apenas ao caso brasileiro. Como afirma n’O mundo que o português criou,
é o carácter específico do comportamento dos portugueses no papel dos colonizadores
das terras tropicais que se encontra atrás do surgimento dum “mundo que,
como conjunto de valores essenciaisde cultura, como realidade psycho-social,
continua a existir. Sobrevive á desarticulaçãodo império simplesmente político.
Resiste á pressão de outros imperialismos meramente económicos ou
políticos”[25].
E, alguns anos mais tarde, destaca que é a “superaçãoda condição étnica pela
cultural [que] caracteriza a civilização luso-tropical”.[26]Sobre
o modo português de estar nas terras alheias ele acrescenta: “eles vêm
transformandobeneficamente os trópicos, sem pretender torná-los europeus ou
sub-europeus. Isto porque,antes de procurarem transformar os trópicos, eles
próprios se vêm transformandoem luso-tropicais, por assim dizer, de corpo e
alma, isto é de cultura no seu mais amplosentido antropológico e sociológico “.[27]
Em
resumo, o conceito do luso-tropicalismo, ou da civilização luso-tropical,
fundamenta-se no fenómeno da miscigenação não somente no sentido racial mas
sobretudo na sua dimensão cultural e social, quando as mútuas influências
resultaram em surgimento duma entidade cultural original. O processo de
miscigenação foi possível por causa da atitude especial dos colonos portugueses
para com as populações nativas: a ausência do preconceito racial, a capacidade
de se adaptar às condições do âmbito tropical e o gosto pelas mulheres de cor.
A miscigenação é o marco de reconhecimento da colonização portuguesa entre as
das outras nações europeias. Ora, conforme Freyre e os seus seguidores, a comunidade
lusófona, que além de Portugal consiste do Brasil e dos países de língua
portuguesa em África e na Ásia, é uma realidade que se suporta nos laços
afectivos e com a solidariedade que não podem ser contestados pelos interesses
económicos ou geopolíticos, tanto internos como de exterior.
O próprio
Gilberto Freyre estava aberto às críticas da sua teoria. Algumas até incorporou
n’O mundo que o português criou.[28]A
maioria das reacções críticas concentra-se nos pontos evidentemente fracos do
conceito apresentado por Freyre:
· A imprópria generalização de uma
experiência particular do Nordeste brasileiro, que tem pouco em comum com a
situação nos restantes territórios sujeitos à influência portuguesa.
· A falta dos fundamentos empíricos para a
afirmação sobre a ausência do preconceito racial entre os colonizadores
portugueses.[29]
·
O
carácter controverso do fenómeno da miscigenação, salientado por Gilberto
Freyre, que se realizou quase em exclusivo na sua forma sexual fora de
casamento, sem trazer qualquer benefício social, na maioria dos casos, para as
mulheres de cor e para os seus filhos mestiços.[30]
·
O
envolvimento pessoal de Freyre na fundamentação ideológica da política colonial
portuguesa prejudicou-o enquanto cientista.
Eis os
prós e contras do luso-tropicalismo como teoria. O próprio Gilberto Freyre
comprometeu-se com a ideia da solidariedade lusófona e toda a sua vida fez
muito esforço para manter as relações entre os povos de língua portuguesa, e
sobretudo entre os brasileiros e portugueses, vivos e mutuamente interessantes.
2.1
O IMPÉRIO PORTUGUÊS: DIVERSIDADE
NO
TEMPO E NO ESPAÇO
Portugal foi a primeiro potência
mercantil europeia dos tempos modernos. De certo modo, podemos situar na
conquista de Ceuta, cidade marroquina, em 1415, o início da expansão
ultramarina portuguesa. Esses 560 anos podem ser didacticamente divididos em três
grandes fases: o império asiático, o brasileiro e o africano, este comumente
chamado, a partir da ocupação iniciada na segunda metade do século XIX, de o
Terceiro Império.
Não conseguimos, à luz da história,
enxergar essa essencialidade, essa quase perpetuação genética de aptidões e
comportamentos do português, como nos quer levar a crer Gilberto Freyre, que
tenham sido mantidas em épocas tão distintas, face a territórios e povos tão
diferentes a quem os colonizadores lusos aplicaram métodos bem diferenciados de
colonização visando objectivos específicos distintos.
As tais
características básicas e permanentes dos portugueses que, segundo Freyre,
possibilitavam-lhes uma atuação “amorosa” nos trópicos não têm sido assim
avaliadas por inúmeros autores e não encontram respaldo nem nos diferentes
textos legais de Lisboa e nem nas estatísticas. Dessas três características, já
se abordou aqui a adaptabilidade aos trópicos (rala e tardia na África, só se
intensificou após 1920) e a mais louvada de todas, a miscigenação. Vejamos
agora a “mobilidade”, propiciadora da promoção cultural e social dos
autóctones, que criaria essa comunidade lusíada de valores e sentimentos,
segundo Freyre.
O veículo dessa promoção e comunhão de
valores e sentimentos seria a assimilação, a pedra de toque da
colonização portuguesa. Em Angola, Moçambique e Guiné, as populações eram
divididas em indígenas e civilizadas. Compunham este último grupo
os colonos e os assimilados. Para atingir este estatuto, os candidatos
africanos deveriam provar falar a língua portuguesa, ser maior de 18 anos, ter
meios de subsistência para si e família, não ser refractário ao exército, ter o
pagamento dos impostos em dia, e condição subjectiva e difícil de transpor:
“ser considerado como tendo qualidades necessárias para o exercício dos
direitos de cidadão português”. O colono era, a priori, considerado
civilizado.
No entanto, o censo de 1950 indicava que
8,9% dos colonos eram analfabetos e 64,4% deles só tinham frequentado os
primeiros anos (3 ou 4) do ensino fundamental. Para não concorrer nos empregos
com esse “pequeno branco”, a aquisição do estatuto de civilizado por parte dos
negros passou a sofrer ainda maiores restrições a partir do grande afluxo de
colonos motivado pelo boom do café no pós-guerra. Desta forma, o censo
de 1950 dava para Angola um número de 30.089 assimilados, isto é, 0,74% da
população. Nas outras duas colónias, o percentual era ainda menor. O percentual
chega a cerca de 1% em 1960 e o estatuto será abolido após o início da luta de
independência em Angola, em 1961, quando, na teoria pelo menos, é generalizada
a condição de cidadãos aos africanos, negros e mestiços.
Ser indígena ou assimilado
determinava muito da vida do africano. Assim, o indígena estava sujeito
ao trabalho forçado – essa, talvez, a grande marca do colonialismo português –
imposto pelo Estado, ao pagamento de um imposto de soberania, não tinha direito
à propriedade privada (só à posse consuetudinária) e nem sequer acesso directo a
uma escola do Estado sem passar antes por uma administrada pelas missões
cristãs; não tinha, claro, acesso à função pública[31]
É o momento de chamarmos a atenção para
as diversas heranças culturais portuguesas herdadas dos períodos mercantil e
colonial pelos africanos e hoje tão adaptadas e incorporadas ao seu património
cultural. Só que elas não precisam da essencialidade ahistórica do
lusotropicalismo para explicá-las. Mais ainda: essas heranças não foram sempre
impostas pela coerção colonial. Frequentemente eram assumidas voluntariamente,
ora como valores positivos em si mesmos, ora como maneira de melhor superar
certas barreiras coloniais[32]
Um erro que não é monopólio de Gilberto
Freyre, mas da história colonialista da África e do que sobrou dela ainda hoje,
é o de caracterizar os processo de colonização de modo generalizado,
estabelecendo diferenças apresentadas como específicas segundo a potência
europeia. Cada uma teria uma característica geral própria, algumas melhores que
as outras, numa escala valorativa que não condiz com a diversidade de
colonização mesmo quando praticada pela mesma metrópole. Exemplos: os ingleses
praticavam uma política de colonização indirecta em territórios da África
Ocidental (Nigéria é o exemplo clássico) e outra, de consequências bem mais
funestas, nas colónias de povoamento branco da África Austral, Central e
Oriental (África do Sul, Rodésia do Sul – actual Zimbabué – e Quénia, em menor
grau). A França foi bem diversa na sua colonização de povoamento da Argélia
(quase um milhão de colonos) do que na sua colónia de exploração ou
enquadramento do Togo. Não faz portanto sentido usar a expressão geral e
indistinta de colonização portuguesa na África se não diferenciarmos os
períodos e os territórios referidos, seja no aspecto político, administrativo
ou económico.[33]
O que acabamos de afirmar não anula que a metrópole não possua
ideologia, doutrina e política coloniais que, afora aspectos bem gerais, são
aplicadas diferentemente para cada território e fase da colonização. Na sequência
desta observação vem a lume analisar a legenda o luso e o trópico.
Conceição Neto, mais uma vez, é lúcida e sucinta sobre a questão:
“É
evidente que as dinâmicas sociais que acompanharam a colonização não resultaram
simplesmente do impacto de um luso (abstrato e idealizado) sobre um trópico,
ainda mais mitificado. Que historicamente falando, não houve um trópico, já é
hoje consenso geral. O que existiu foram diversas civilizações nas regiões
tropicais. Mas também é preciso afirmar que o luso não existiu (nem o
gaulês, nem o anglo-saxônico), na história do avanço colonizador; existiram
grupos, indivíduos, instituições do Estado e privadas que agiram de modo
diverso ou até contraditório, condicionados pela cultura do seu tempo e pelos
interesses que defendiam. Uma das mais imediatas críticas a Gilberto Freyre é
precisamente ao caráter essencialista da sua explicação que acaba, assim, por se
aproximar das teorias racistas que ele quis combater”.[34]
CAPÍTULO
III: O LUSOTROPICALISMO E A CRÍTICA AFRICANA
Segundo João Medina[35],
Mário de Andrade foi o primeiro crítico do lusotropicalismo de Freyre dedicado
à África. Sob o pseudónimo de Buanga Fele, ele publicou na revista Présence
Africaine (v. 9, n. 5, out.-nov. 1955) um artigo intitulado “Qu’est-ce
que ‘le tropicalismo’?”
“Segregação e assimilação são formas políticas através das
quais a colonização garante os seus privilégios contra a legítima vitalidade
dos povos colonizados. Trata-se de manter uma barreira entre os níveis de vida
das duas populações e de evitar que a direção político-econômica seja disputada
contra o europeu.
Contudo, a assimilação e a segregação assumem formas
diversas segundo características históricas, demográficas e econômicas do
complexo colonial (...) Portugal é demasiado pobre pela sua demografia e
recursos metropolitanos para que a segregação possa obter resultados nas suas
colónias da África a não ser pela limitação sistemática da ascensão social dos
autóctones e pelo sacrifício de uma parte do branco. Os compromissos são
difíceis de evitar nos meios pobres. No Brasil e nas colónias africanas via-se
por vezes o português aceitar cumprir tarefas que os outros europeus consideravam
indignas de branco” (grifos do Autor, p. 24).
Ainda Andrade:
“Freyre se recusa em ver o funcionamento do aparelho
colonial como sendo antes de tudo uma empreitada económica dirigida por um
poder político. Essa recusa é a maior fraqueza da sua sociologia (...). No
fundo, a mestiçagem foi largamente praticada no Brasil não em virtude de
considerações morais ou visão política, mas por uma simples circunstância: o
número extremamente reduzido de mulheres” (pp. 27 e 28).
Andrade duvida de uma vocação mais
cristocêntrica que eurocêntrica do português; isto face a uma prática
escravocrata manchada de sadismo (o que é reconhecido por Freyre) por mais de três séculos. Aliás, na
África, lembra Andrade, “essa mestiçagem teve certa força no passado mas se
perdeu com o colonialismo praticado, sobretudo, após 1920. “O lusotropicalismo
não é válido para explicar a formação do Brasil e é inteiramente falso para as
circunstâncias do colonialismo português na África” (p. 12).
Andrade conclui esta parte da crítica
dizendo:
“Bem,
aqui está o corolário: uma parte da África, da Ásia, da Oceania e da América
dominada por um pequeno número de portugueses valentes que traziam no sangue a
herança tropical do cruzamento com os mouros e carregavam a marca de uma
unidade de sentimentos e de cultura. Não sabemos justificar melhor a
colonização portuguesa” (p. 30).
Na Antologia de Poesia Negra de
Expressão Portuguesa[36],
Mário circunscreve o seu entendimento do que se poderia chamar de
lusotropicalismo:
“(...) como um movimento de integração de valores tropicais
na cultura lusitana ou de circulação de produtos em áreas de influência
portuguesa; nunca como uma harmonização de valores europeus (lusos) com os
africanos ou orientais”.
Mais adiante (p. XII) aborda a questão da
assimilação que, segundo ele:
“Traduz-se sempre na prática de uma desestruturação social
dos quadros negro-africanos pela criação de uma elite assimilada” [Os
“portugueses” de 2ª classe}.
A interpretação do lusotropicalismo como
uma ideologia justificadora em si mesma do colonialismo português –
independente do uso e abuso que dela fez o salazarismo – foi feita por outro
intelectual e político, Amílcar Cabral, fundador do Partido Africano da
Independência da Guiné e de Cabo Verde2 .
“Criou-se um mito com todas as peças. E como todos os mitos,
sobretudo quando eles dizem respeito à dominação e exploração dos povos, não
lhe faltou o ‘homem de ciência’, no caso um sociólogo renomado, para dar-lhe
uma base teórica: o lusotropicalismo. Gilberto Freyre confundiu, talvez
involuntariamente, realidades (ou necessidades) biológicas e realidades
sócio-econômicas, históricas, e fez de todos nós, povos das províncias colônias
portuguesas, os bem-aventurados habitantes do paraíso tropical)”.
Linhas
adiante, Amilcar Cabral nos conta sobre a força que esse mito possuía – a
imagem mestiça do Brasil contribuía para
isso. Na Conferência dos Povos Africanos, realizada em Túnis, em 1958, ele
ouviu de um colega africano: “Ora, o caso de vocês é diferente. Não há
problemas entre vocês e os portugueses”.
Contrastando com a realidade apontada por
esses dois autores “luso-africanos”, Freyre afirmava que a marca das terras
descobertas e colonizadas por Portugal não teria sido a de “terras violadas ou
conquistadas à força bruta, mas docemente assimiladas”[37].
No entanto, a pesquisa minuciosa de René
PÉLISSIER[38]
quando contabiliza que a conquista do interior de Angola custou aos portugueses
mais de 180 campanhas militares, considerando somente o período 1845-1920. No
final do século XIX, 45% do orçamento de Angola era gasto em operações
militares que envolveram cerca de 40 mil militares.
Para
ilustrar a influência perdurante do lusotropicalismo nalguns círculos
académicos em Portugal, Pereira afirma: “[...] a Comunidade Lusófona
surge-nos como sendo a que parece dar maiores garantiasde solidez e capacidade
de poder vingar no quadro internacional, podendo mesmo ser a quepoderá iniciar
um novo caminho na afirmação de culturas – transformar uma comunidadecultural num
grande espaço económico e polítitco-diplomático de afirmação mundial.Tal
justifica-se, como já foi afirmado, tendo por base o modelo de relacionamento
que o povoportuguês sempre estabeleceu com os naturais das suas províncias
ultramarinas e que fezcom que o desenvolvimento das colónias tivesse sido
grande e quase idênticoao da metrópole [sic].”[39]
CAPÍTULO
IV: O IDEAL E A REALIDADE DUMA COMUNIDADE LUSÓFONA
Nesta
parte do trabalho focaremos nos projectos políticos, mais ou menos bem
sucedidos, de transformação do Império Colonial Português obviamente sem futuro
viável na sua forma tradicional em alguma outra entidade do interesse comum.
Em
consequência da proclamação da independência do Brasil, em 1822,[40]as tentativas de dar uma nova forma a
todo o espaço lusófono podem ser traçadas já durante o século XIX. Tendo a
emancipação política da colónia portuguesa na América do Sul o carácter menos
violento possível, e devido à manutenção da dinastia de Bragança no poder no
Brasil, os laços entre os dois países não romperam totalmente.
As
remessas dos emigrantes portugueses no Brasil sustentaram por muitos anos a
economia nacional portuguesa e o novo Estado brasileiro independente
beneficiava das capacidades dos portugueses enquanto comerciantes, nomeadamente
do tráfico dos escravos da costa africana. No entanto, foi só no início do
século XX quando algumas iniciativas por parte dos intelectuais brasileiros
lusófilos, do projecto duma confederação luso-brasileira ganharam fôlego.
Simultaneamente apareceram as reacções contrárias que surgiram na forma das
organizações destinadas para impedir qualquer aproximação política da intenção
confederalista com a antiga metrópole europeia.[41]
Sem
embargo, as atitudes das elites políticas brasileiras para com Portugal variavam
conforme as preferências dos dirigentes da determinada época. É conhecida a
simpatia que os presidentes Vargas e Kubitschek tiveram com Portugal, mesmo
como é notória a mudança da política externa brasileira desde o governo Jânio
Quadros no início dos anos 60. O alinhamento do Brasil ao “Terceiro Mundo”
reflectiu-se também nas relações lusobrasileiras, sobretudo através da oposição
do Brasil à política colonial portuguesa no forum internacional. A coincidência
desta reviravolta da política exterior brasileira com o desencadeamento das
guerras coloniais em África portuguesa afectaram, por alguns anos, as relações
entre os dois Estados. O rumo anticolonialista do governo brasileiro não mudou,
nem após o golpe de Estado de 1964 com que se instalou uma ditadura militar. A
ideia duma “Comunidade Afro-Luso-Brasileira” edificada na base voluntária como
uma solução viável para o grave problema colonial português continuou dominar
na política externa brasileira.[42]
Um
processo diferente de aproximação ocorreu no outro lado do Atlântico. Os
representantes da mesma orientação política dos movimentos nacionalistas nas
colónias portuguesas em África formaram uma organização comum – a Conferência
das OrganizaçõesNacionalistas das Colónias Portuguesas (CONCP) - com o objectivo
de coordenar as suas actividades anticolonialistas, sobretudo no campo
internacional.[43]Depois
de terem alcançado a independência, nos meados dos anos 70, os dirigentes
destes movimentos nacionalistas, que entretanto tomaram poder nos respectivos
países, criaram um grupo informal dos PaísesAfricanos da Língua Oficial
Portuguesa (PALOP) que aliás nunca veio a se institucionalizar numa forma
sólida. Ao contrário do que era de esperar, os países lusófonos em África
optaram pelos modos diferentes do seu enquadramento internacional.[44]
As
pressões de dois lados – do Brasil e da África – a Portugal para este acabar
com o sistema vigente do império colonial, e em consequência do desenvolvimento
no âmbito internacional quando todas as potências coloniais europeias na década
de 60 concluíram o processo da descolonização, as elites portuguesas foram
obrigadas a se preocupar com o problema colonial. O espaço para uma possível
mudança política não era amplo.
De
maneira semelhante como aconteceu depois da independência do Brasil, cujo
impacto profundo na sociedade portuguesa resultou em surgimento dum forte
sentimento da necessidade de sustentar a posse dos territórios ultramarinos
para a própria sobrevivência da nação portuguesa independente, e levando em
consideração a alegada ameaça da absorção pelo seu vizinho espanhol, um
sentimento de medo da perda da identidade nacional ressurgiu também durante o
século XX.[45]Dada
a vontade comum de manter os domínios ultramarinos, a polémica levantou-se
sobre a organização do império. Duas correntes principais, a da manutenção da
política de assimilação e do Estado unitário, e o ponto de vista oposto
favorável à descentralização ou até à federalização do império, chocaram-se
muitas vezes tanto entre os grupos de oposição ao regime como no próprio seio
de poder.
Para a
própria sobrevivência da ditadura do “Estado Novo”, a postura integralista e
assimilacionista, pelo menos nos termos da lei e do discurso político, não
permitiram qualquer desvio da ideologia oficial do “Império Colonial
Português [...] solidário nas suaspartes componentes e com a metrópole”.[46]Não
obstante algumas reformas do enquadramento jurídico da política colonial
portuguesa, o regime personalizado por António de Oliveira Salazar, o primeiro
ministro que, de vez em quando, ocupou também a pasta de colónias, nunca mudou
esta postura até à sua derruba, em 1974, já após a morte de Salazar. No
entanto, em reacção a alguns acontecimentos importantes (e.g. fim da Segunda
Guerra Mundial, adesão de Portugal à Organização das Nações Unidas, início das
guerras coloniais etc.) surgiram diversos projectos de reforma do império.
Um deles,
da autoria de próprio Marcelo Caetano, o futuro sucessor de Salazar no cargo do
Presidente do Conselho dos Ministros, até propõe, em 1962, a federalização do
império.[47]É
característico que a proposta de Caetano não veio a se realizar, embora o então
professor de Direito na Universidade de Lisboa passasse ao de facto chefe
do Estado em 1968. Do carácter diferente foi a iniciativa de Adriano Moreira, o
antigo Ministro do Ultramar reformista e, na respectiva altura, presidente da
Sociedade de Geografia de Lisboa, que deu impulso, em 1964, à criação da União
das Comunidades de CulturaPortuguesa e da Academia Internacional da
Cultura Portuguesa, um projecto da matriz cultural mas também com uma
importância política. Não obstante as possibilidades promissoras deste
projecto, a falta do apoio por parte dos dirigentes do Estado pôs fim a esta
iniciativa, ainda durante a década de 60.
A reforma
da Constituição portuguesa, em 1971, que concebeu o estatuto de “Estados” às
províncias de Angola e Moçambique, sem definir claramente o conteúdo deste
estatuto, representa uma das últimas tentativas, afinal em vão, do governo
português de salvar o Império Colonial. António de Spínola, na época
governador-geral da Província da Guiné, no seu célebre livro Portugal e o
Futuro, de 1974, de novo denunciou a postura errada do governo português e
ofereceu a sua visão duma “Comunidade Lusíada”.[48]
São
notórios os acontecimentos que sucederam à Revolução dos Cravos de 1974. A
descolonização relativamente caótica, o envolvimento entusiasmado de Portugal
no projecto da integração europeia, o trauma das guerras coloniais persistente,
as prolongadas e desastrosas guerras civis que eclodiram em Angola e
Moçambique, uma situação difícil na Guiné e em São Tomé e Príncipe, a
“década perdida” dos anos 80 no Brasil ou as mudanças no campo internacional,
tudo isto encontra-se atrás da relativa redução dos contactos entre os Estados
lusófonos. Foram necessários vinte anos para os dirigentes pudessem encontrar
uma nova plataforma para a cooperação entre os países da língua portuguesa.
A Comunidade
dos Países da Língua Portuguesa, fundada em 1996 por 7 países de língua
oficial portuguesa independentes e que acolheu, em 2002, também o
recém-independente Timor Leste, foi estabelecida com um conjunto dos objectivos
bastante ambiciosos.[49]A
língua portuguesa comum deve servir de pedra mestra do projecto e na sua base
pretende-se desenvolver uma cooperação multidimensional nas áreas económica,
política, cultural, comercial ou social entre os países que são, porém, dotadas
duma diversidade excepcional e nunca podem constituir um conjunto homogéneo. A
Comunidade também intencional facilitar a circulação de pessoas dentro do seu
espaço, uma ideia cuja realização, devido a múltiplas razões, não correrá sem
dificuldades.
Hoje,
passados quase dez anos sobre a criação da CPLP, os resultados reais não
parecem satisfazer completamente as expectativas iniciais. O relativo fracasso
da CPLP no papel do pacificador durante o conflito interno na Guiné-Bissau, no
fim dos anos 90,[50]
pode ser contrabalançado com a conclusão bem sucedida da questão de Timor
Leste. Sem qualquer dúvida, o apoio prestado pelos restantes países lusófonos
às ambições independentistas do povo timorense no território ocupado pela
Indonésia jogou um papel importante no complicado processo do reconhecimento
deste pequeno Estado-Nação nascente.[51]Um
outro caso que revela a complexidade das relações entre luso-falantes é a
questão do Acordo Ortográfico.
As
tentativas de aproximar e harmonizar as normas ortográficas do português
europeu e brasileiro, inicialmente, e hoje com uma diversidade ainda maior
oriunda das diferenças no idioma português usado em sociedades africanas,
incluindo as expressões do crioulo, já têm uma longa história. O primeiro
Acordo Ortográfico foi assinado entre os governos brasileiro e português no
anos 40 nunca veio a se realizar nos termos práticos. Esta situação repetiu-se
com o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado esta vez por
representantes dos sete países lusófonos em Lisboa no dia de 16 de Dezembro de
1990, que até aos nossos dias não foi ratificado e por isso ainda não entrou em
vigor.[52]
É
evidente que as pretensões e ambições que acompanharam desde início a CPLP não
tem sido completamente satisfeitas. Ironicamente, são sobretudo as diferenças
entre os respectivos países que, conforme a ideia fundamental do projecto,
devem pertencer a um grande espaço comum. O carácter geograficamente
descontínuo, a influência permanente dos outros centros de poder económico e
cultural e, até ao certo grau, os ressentimentos do passado, representam
obstáculos graves para a afirmação da Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa como uma organização universal, no que diz respeito aos seus
objectivos e áreas de actuação.
CONCLUSÃO
Em guisa de epílogo, numa perspectiva
histórica, entende-se o Lusotropicalismo como ideologia que serviu ao Estado
Novo para justificar o Imperialismo Português, numa tentativa de suavizar e até
mesmo escamotear o impacto do colonialismo.
As
opiniões sobre o possível papel da teoria do luso-tropicalismo nas relações
contemporâneas entre os elementos do espaço lusófono variam de país a país. Não
é surpreendente que as ideias de Gilberto Freyre sobre a integração harmoniosa
dos portugueses nas terras alheias gozam do melhor acolhimento em Portugal. No Brasil ,
a situação já é mais complicada. Por um lado, Freyre continua jogar um papel
importante para os estudos da identidade do próprio Brasil. Por outro lado, a
sua colaboração com o regime autoritário português do “Estado Novo” deixou uma
marca negra no seu perfil científico.
Além
disso, a política externa brasileira sempre apresentava uma grande porção do
pragmatismo e realismo que não se suporta com conceitos do carácter tão
abstracto como é o luso-tropicalismo. Nos países africanos, a atitude para com
o legado de Gilberto Freyre é provavelmente mais característico pela rejeição da
postura simplicista do conceito. Assim, “o fantasma que nos assombra”[53]não
só não oferece uma base para a nova definição das relações entre os povos de
expressão portuguesa mas, ao contrário, com a sua mistificação sobre o passado
colonial afoga o desenvolvimento da mútua confidência e compreensão.[54]
Afinal, temos os países, como Timor Leste ou, no certo sentido, Guiné-Bissau,
que acham o luso-tropicalismo irrelevante, devido ao carácter específico da
presença portuguesa nestes territórios.
Hoje já
parece ser evidente que as ambições da CPLP e as expectativas, sobretudo por
parte de Portugal, da sua afirmação no contexto mundial, tenham sido
exageradas. A organização sofre de muitas dificuldades da ordem estrutural que
resultam primordialmente da imensa heterogeneidade dos seus Estados-membros e
da consequente divergência dos interesses das respectivas políticas externas
nacionais. Além disso, o facto que a maioria dos países da CPLP pertence ao
grupo das sociedades mais pobres do mundo funciona como um obstáculo do
carácter material colocado aos desenvolvimentos e aprofundamento da cooperação
dentro da Comunidade. Não obstante, a cooperação em desenvolvimento, que
pertence entre os principais objectivos da Comunidade pode, por outro lado,
contribuir para o fortalecimento dos laços afectivos entre as nações
envolvidas.
O
projecto da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa junto com a
teoria do luso-tropicalismo tentam fazer face à visão do já referido “choque
das civilizações” popularizado por Huntington. Provar que a cooperação entre
Norte e Sul é possível e pode ser mutuamente vantajosa e contribuinte, não
obstante as divergências naturais e legítimas nos interesses nacionais
particulares é a tarefa básica da CPLP. Uma longa história dos contactos dos
portugueses com os habitantes dos outros continentes e os vestígios que eles
deixaram não é uma mistificação e não pode ser facilmente afastada. Neste
sentido, a ideia do Luso-tropicalismo parece possuir bastante força para
sobreviver as adversidades políticas ou científicas.
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mistificações da colonização de Angola no século XX. In: Lusotopie,
1997.
SAÚTE, Nelson: Eu, afro-luso-brasileiro-céptico, me
confesso. In: Política Internacional, 1996, Vol. 1, No. 13.
ANDRADE, MÁRIO P. DE: Le nationalisme
Angolais. Présence Africaine, n. 42, 3º trimestre/1962. Paris. p.
5-24.
[1] Pode se ver por exemplo
o prefácio de Adriano Moreira de MARCHUETA, M. R. – FONTES, J.: Comunidade
dos países de língua portuguesa; o artigo do angolano de origem lusa Ruy
Duarte de Carvalho (CARVALHO, R. D.: Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa, pela tangente); ou, duma perspectiva diferente, a contribuição da
angolana Maria da Conceição Neto (NETO, M. C.: Ideologias, contradições e
mistificações da colonização de Angola no século XX), entre outros.
[2]Uma descrição detalhada da organização do convite de Sarmento
Rodrigues a Gilberto Freyre para a viagem científica ao Império português está
na obra de Cláudia Castelo, O Modo Portuguêsde Estar no Mundo: o
luso-tropicalismo e a ideologia colonial portuguesa (1933 - 1961),
publicado no Porto pela editora Afrontamento em 1998.
[3]Venâncio, 1996, p. 144-145.
[4]Castello, 1998, p. 103-105.
[5] Um outro famoso
sociólogo brasileiro, o então ministro das Relações Exteriores do Brasil
Fernando Henrique Cardoso incluiu a obra de Freyre, junto com a de Sérgio
Buarque de Holanda e de Caio Prado Júnior, entre os livros mais importantes
para o conhecimento da realidade brasileira. Vd. CARDOSO, F. H.: Livros que
Inventaram o Brasil.
[6] Gilberto Freyre nasceu
no Recife, Estado de Pernambuco, em 15 de Março de 1900 e morreu na sua cidade
natal em 18 de Julho de 1987.
[7] CARDOSO, F. H. – SOARES,
M.: O mundo em português: um diálogo, p. 143.
[8] Embora este conceito
tenha sido gradualmente aceitado pela maioria dos intelectuais como o mais
apropriado para o caso brasileiro, há quem diz que a imagem da sociedade
brasileira do pé triangular é pura invenção cultural que não possui fundamentos
empíricos bastante sólidos. Vd., por exemplo,
DaMATTA, R. A.: For an Anthropology of the Brazilian Tradition or “A Virtude
está no Meio”, in: HESS, D. J. – DaMATTA, R. A. (eds.): The Brazilian Puzzle,
p. 272.
[9] Contrariamente a Freyre,
Sérgio Buarque de Holanda não se mostra fascinado com a capacidade colonizadora
dos portugueses: “Instrumentos sobretudo passivos, nossos colonizadores
aclimaram-se facilmente, cedendo às sugestões da terra e dos seus primeiros
habitantes, sem cuidar de impor-lhes normas fixas e indeléveis.” Vd. HOLANDA,
S. B.: Raízes do Brasil, p. 22.
[10] Os fundamentos desta
hipótese, ou da teoria do lusotropicalismo, serão analisados mais adiante.
[11] Em 1933, no seu discurso
pronunciado na abertura da I Conferência dos Governadores Coloniais, o Presidente
do Conselho dos Ministros português António de Oliveira Salazar destacou: “devemos
organizar cada vez mais eficazmente e melhor a protecção das raças inferiores
cujochamamento à nossa civilização cristã é uma das concepções mais arrojadas e
das mais altasobras da colonização portuguesa.” Vd. SALAZAR, A.: A Nação na
Política Colonial, in: AAVV: Antologia Colonial Portuguesa, p. 333.
[12] ALEXANDRE, V.: Velho
Brasil/Novas Áfricas, p. 231.
[13] Com a reforma do quadro
jurídico do Império Colonial Português, no início dos anos 50, tudo “colonial”
passou a se chamar “ultramarino”. Os efeitos práticos desta reforma, que foi
aprovada sobretudo com a intenção de satisfazer as exigências externas, visando
a futura adesão de Portugal à Organização das Nações Unidas, foram, no entanto,
nulos.
[14] CASTELO, C.: O modo
português de estar no mundo, p. 28.
[15] Ora, o próprio Freyre
teve ciência clara do carácter construtivo das suas teses: “Nas páginas que se
seguem – páginas em que o ponto de vista não é só o cientificamente sociológico,
mas, ás vezes, o normativo e politico – procuro mostrar como é possível
defender e desenvolver aquela cultura por meio de uma solidariedade maior do
Brasil com Portugal e com as colónias portuguesas.” FREYRE, G.: O mundo que o
português criou, p. 38.
[16] Conforme Freyre, o
português foi “o colonizador europeu que melhor confraternizou com as raças
chamadas inferiores. O menos cruel nas relações com os escravos.” FREYRE, G.:
Casa grande & senzala, p. 313.
[17] Ibid., pp. 86-94.
[18]Da mesma opinião é o historiador
francês Marc Ferro: “os portugueses conquistaram o mundo não com espada e
cruz mas com sexo”. FERRO, M.: Colonization, p. 107, tradução nossa.
[19] A política de casamentos
mistos, mesmo com bramânes e com muçulmanas, foi desenvolvida por Afonso de
Albuquerque, o vice-rei da Índia portuguesa, no início do século XVI. Deste
jeito, Albuquerque tentou resolver o problema da crónica escassez demográfica
do elemento português nas terras colonizadas. Vd. LARA, A. S.: Colonização
Moderna e Descolonização, pp. 73-74.
[20] FREYRE, G.: Casa-grande
& senzala, p. 373.
[21] Ibid., p. 19.
[22] Ibid., p. 33.
[23] Ibid., p. 77.
[24] Freyre ilustra essa
atitude com um provérbio popular daquela altura: “branca para casar, mulata
para f...., negra para trabalhar”. Ibid., p. 90.
[25] FREYRE, G.: O mundo
que o português criou, p. 32.
[26] FREYRE, G.: Integração
portuguesa nos trópicos, p. 36. Nesta sua obra Freyre sugeriu a criação
duma nova disciplina científica que denominou “hispano-tropicologia”, ou
“luso-tropicologia” respectivamente, que seria uma „ciência especializada na
análise e na interpretação da simbiose hispano-trópico ou luso-trópico”.
Vd. p. 24.
[27] Ibid., p. 51.
[28] “Trechos de um ensaio de
escritora Maria Archer – «Aspectos de paisagem social na Africa Portuguesa e no
Brasil do passado sugeridos pelos livros de Gilberto Freyre»”, in: FREYRE, G.: O
mundo que o português criou, pp. 127-139.
[29] Neste sentido, a crítica
mais conhecida provém de Charles Boxer que aliás não discutiu directamente com
Freyre mas com a propaganda salazarista. Vd.
BOXER, C. R.: RaceRelations in the Portuguese Colonial Empire, 1415-1825.
[30] Vd. por exemplo: SILVA,
T. S.: Raced Encounters, Sexed Transactions: ‘Luso-tropicalism’
and the Portuguese
Colonial Empire.
[31] PEREIRA: 1999, 71-73.
[32] NETO: 1997, 322.
[33] NETO: 1977, passim e PEREIRA:
1998, 153.
[34]NETO: 1997, 335
[35]MEDINA: 2000, 51
[36]ANDRADE: 1958, X a XI
[37]FREYRE: 1953b, 230.
[38]PÉLISSIER , 1987, 90 e 88.
[39] PERREIRA, P. E. M.:
Comunidade de Países de Língua Portuguesa, uma realidade geopolítica, pp.
232-233.
[40] Além de ter perdido a
colónia mais importante do seu império, o governo português temia das
tentativas de realizar a ideia da união do Brasil com Angola, ou da
independência total deste território africano sob a tutela dos colonos brancos.
Vd. KLÍMA, J.: Angola, p. 33. No Tratado de 1825, com que Portugal
reconheceu definitivamente a independência do Brasil, foi incorporado o
compromisso explícito do primeiro Imperador brasileiro Pedro I com o seu pai, o
rei português Dom João VI, de não ter qualquer pretensão sobre os restantes
partes do Império Colonial Português: “Sua Majestade Imperial promete não
aceitar proposiçõesde quaisquer Colónias Portuguesas para se reunirem ao
Império do Brasil.” Conf. o Artigo Terceiro do Tratado entre Portugal e o
Brasil de Reconhecimento do Império de 29 de Agosto de 1825, in: MARCHUETA, M.
R. – FONTES, J.: Comunidade dos países de línguaportuguesa, p. 38.
[41] CERVO, A. – MAGALHÃES,
J. C.: Depois das Caravelas, p. 278.
[42] Conf. as palavras do
primeiro presidente da ditadura militar brasileira general Humberto Castello
Branco: “Nossa política anticolonial se defronta com o problema dos laços
afetivos e políticos que nos unem a Portugal. Talvez a solução residisse na
formação gradual de uma Comunidade Afro-Luso-Brasileira, em que a presença
brasileira fortificasse economicamente o sistema.” Ibid., p. 302.
[43] GUERRA, J. P.: Memória
das Guerras Coloniais, p. 102 e seguintes. No realidade, muitos dos
representantes dos movimentos nacionalistas já se conheciam dos tempos dos seus
estudos em Portugal e dos seus encontros e debates no âmbito da Casa dos
Estudantes do Império, duma organização estudantil das pessoas oriundas de
diversos partes do Ultramar português. Vd. KLÍMA, J.: Poslední koloniální
válka, p. 33.
[44] Por exemplo os países de
África Ocidental, como Cabo Verde, Guiné-Bissau ou São Tomé e Príncipe, têm uma
forte ligação à Francophonie, Moçambique virou membro do Commonwealth.
[45] Vd. por exemplo SMITH, A. - MAR-MOLINERO, C.: The Myth and Realities of
Nation-Building in the Iberian Peninsula, in: MAR-MOLINERO, C. – SMITH, A.
(eds.): Nationalism and the Nation in the Iberian Peninsula: Competing and
Conflicting Identities, pp. 1-30.
[46] Artigo 5 do Acto
Colonial de 1930, in: MIRANDA, J.: As Constituições Portuguesas, p. 313.
Para perceber melhor a mudança da política colonial, confronte o sentido
centralizador do Acto Colonial com os dispositivos da Constituição da República
Portuguesa de 1911 (Artigo 67): “Na administração das províncias
ultramarinas predominará o regime de descentralização, com leis especiais
adequadas ao estado de civilização de ceda um delas.” Ibid., p. 232.
[47] “A Comunidade Portuguesa
(ou outro nome que se lhe desse) compreenderia Estado e Províncias
ultramarinas. Três Estados federados: Portugal, Angola, Moçambique (a que se
podia, por questão de princípio, acrescentar a Índia). E as Províncias da
Guiné, S. Tomé, Macau e Timor. Cabo Verde receberia o estatuto de Ilhas
Adjacentes.[...] Reconheço que se trata de uma modificação profunda que
porventura chocará até a Metrópole, por obrigá-la a adoptar posição paritária
no Estado-federado.” Vd. GUERRA, J. P.: Memória das Guerras Coloniais, p. 333.
[48] Neste seu livro, Spínola
esboça “uma tese equilibrada de construção de uma vasta Comunidade Lusíada,
sobre a autonomia progressiva de todas as parcelas, cavando-se assim os
alicerces de uma unidade de espírito novo, que na sua fase inicial não deixará
de passar por vicissitudes, mas que acabará sólida, e na qual o Brasil
poderá ter um lugar de destaque, que ocupará de facto e não apenas em ambiente
de platonismo sem consequência.” SPÍNOLA, A.: Portugal e o futuro,
p. 55.
[49] O lista sintética dos
objectivos da Comunidade constitui o Artigo 3º dos Estatutos da Comunidade
dos Países de Língua Portuguesa, assinado em Lisboa no dia 17 de Julho de
1996:“São objectivos gerais da CPLP: (a) A concentração
político-diplomática entre os seus membros em matéria de relações
internacionais, nomeadamente para o reforço da sua presença nos fóruns
internacionais; (b) A cooperação em todos os domínios, inclusive os da
educação, saúde, ciência e tecnologia, defesa, agricultura, administração
pública, comunicações, justiça, segurança pública, cultura, desporto e
comunicação social; (c) A materialização de projectos de promoção e
difusão da Língua Portuguesa, designadamente através do Instituto Internacional
de Língua Portuguesa.” Um índice maisanalítico, de 16 itens, pode-se
encontrar na Declaração Constitutiva da Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa.
[50] Para saber mais, vd. MACQUEEN, N.: A Community of Illusions? Portugal,
the CPLP and Peacekeeping in Guiné-Bissau.
[51] Neste lugar é oportuno mencionar o envolvimento do
diplomata brasileiro Sérgio Viera de Melo, nos serviços da Organização das
Nações Unidas no cargo do Chefe da Administração de Transição das Nações Unidas
em Timor Leste
(UNTAET).
[52] CERVO, A. – MAGALHÃES, J. C.: Depois das Caravelas,
p. 336.
[53] NETO, M. C.: Ideologias, contradições e mistificações
da colonização de Angola no século XX, p. 329.
[54] Já a própria denominação da Comunidade dos Países
de Língua Portuguesa, com que os seus fundadores evitaram o termo
“lusófonos”, do ponto de vista linguístico talvez mais apropriado, representa
este esforço de contruir as relações contemporâneas sobre uma base nova sem
sentimentos e ressentimentos com raízes no passado.
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